sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Vasco da Gama em "A Africana" de Meyerbeer (1865)

"A Africana" é a ultima ópera de Meyerbeer. Estava em fase de produção quando da morte do compositor e, por isso, foi pedido ao renomado musicólogo Fétis para rever toda a partitura para a estreia.

Trata-se de uma grande ópera à boa maneira da época: Triângulos amorosos, uma prisão, povos exóticos, barcos apanhados em tempestades, rituais nativos, árvores venenosas e um auto-sacrificio…

O libreto teve como fonte de inspiração o poema “Le Mancenillier” de Millevoye, que conta a história de uma árvore cuja fragrância é venenosa e de um par de amantes.

Apesar de Eugène Scribe, o libertista, e Meyerbeer, terem começado a trabalhar na ópera em 1837, rapidamente a puseram de lado para se dedicarem a "Le Prophète". Só quando terminaram este trabalho é que voltaram à "Africana", para mais uma vez ser interrompida.

Com tantas interrupções só terminariam o primeiro esboço em 1843 que seria inteiramente revisto. A acção do libreto original passar-se-ia entre África e Espanha, mas na última revisão, efectuada em 1857, a personagem principal passa a ser Vasco da Gama, e os locais da acção passam para Portugal e para as costas de Madagáscar e/ou Índia.

Embora o nome se tenha mantido “A Africana”, as referências a rituais brahmas e aos deuses indianos são uma constante.

A Africana foi estreada na Ópera de Paris a 28 de Abril de 1865. O triunfo foi imediato e rapidamente se espalhou a outras casas de ópera por toda a Europa.

Fonte: Mezza Voce

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"Don Sebastião, Rei de Portugal" de Donizetti (1843)

A reputação da ópera "Don Sebastião, Rei de Portugal" não é das melhores. Donizetti despendeu mais tempo com esta ópera do que com qualquer outra, e o resultado não terá sido o melhor.

Alguns críticos consideram-na um funeral em cinco actos, e por alguma razão, quando a crítica alude a esta ópera refere sempre o estado de saúde mental de Donizetti que nesta altura estaria já bastante afectado devido à sífilis.

Poucas figuras da História europeia incendiaram a imaginação e a criatividade, como D. Sebastião. A literatura romântica produziu sobre este rei português vários contos extravagantes, e Donizetti compôs em 1843 a ópera Don Sebastião, Rei de Portugal, hoje considerada rara.

Estreou na Ópera de Paris. Foi uma obra monumental prejudicada no entanto por um libreto pouco plausível e mal articulado, porém, musicalmente revela o apuramento de estilo que consagraria internacionalmente o seu autor.

Fonte: André Cunha Leal

Video: (Ópera)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Dionisio" de Händel ou uma ópera que nunca veio a ser

"Dionisio Re di Portogallo" é o título do libreto de Antonio Salvi (escrito em 1707 e posto em música por Giacomo Antonio Perti) que esteve na origem de uma das óperas menos conhecidas de Handel (na imagem): "Sosarme, Re di Media", estreada em Londres em 1732.

A meio da composição da obra, possivelmente por razões políticas, Handel viu-se obrigado a transportar a acção (que evocava os conflitos familiares entre D. Dinis, o seu filho herdeiro, D. Afonso IV, e o seu filho bastardo D. Afonso Sanches) da Coimbra medieval para o Médio Oriente.

Libreto original

Händel começou por escrever um "Fernando, re di Castiglia" (com os mesmos personagens históricos), o qual, a cerca de 2/3 da composição (de que existe manuscrito autógrafo), foi alterado no título e no tempo histórico para Sosarme (passado na Ásia Menor da Antiguidade), título pelo qual a obra é conhecida.

A acção situava-se em Portugal: D. Fernando (Rei de Castela) e Elvida (filha de D.Dinis, Rei de Portugal) eram as personagens principais, que viam o seu casamento adiado pela verdadeira guerra civil gerada pela revolta do Infante Afonso (futuro Rei D. Afonso IV).

Fontes: Opera em Portugal / wikipedia1 / cult blogs

Mais informações (1)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Inês de Castro" na ópera e música clássica


A história de Inês de Castro inspirou mais de 20 operas, sendo as mais famosas “Ines de Castro” (1798) de Niccolò Antonio Zingarelli e “Ines de Castro” (1835) de Giuseppe Persiani (1799-1869) com base no libretto de Salvatore Cammarano, que foi bastante conhecida no seu tempo.


Século XVIII

A primeira ópera dedicada a Inês de Castro foi escrita por Gaetano Andreozzi (1755-1826), tendo sido estreada em 1793, na lindíssima e envolvente Florença.

No ano seguinte, 1794, estrearia em Nápoles a “Inês de Castro” de Giuseppe Francesco Bianchi (1752-1810), numa época em que aquela cidade era um dos grandes centros operáticos.

Apresentação de "Ines de Castro" de Persiani

Século XIX

Em 1806 foi estreada outra ópera intitulada “Inês de Castro” em Nápoles, em 1806 da autoria de Giuseppe Farinelli (1769-1836) que pouco terá a ver com o celebrizado castrado Farinelli.

A ópera "Inês de Castro" de Giuseppe Persiani foi estreada em Nápoles, no seu Teatro S. Carlo, em 28 de Janeiro de 1835, tendo desde logo alcançado enorme sucesso perante o público e a crítica, facto que lhe permitiu estar em cena durante cerca de 16 anos, em mais de 60 produções diferentes.

Em Lisboa, o Teatro de S. Carlos assistiria em 1841 à estreia de uma outra ópera "Inês de Castro", escrita por Pier Antonio Coppola (1793-1877), marcando a importância então conseguida por aquele Teatro a nível europeu.


Século XX

A tragédia de Inês de Castro inspirou também um compositor de música culta contemporânea, James MacMillan, nascido em 1959. A ópera "Inês de Castro" concebida por aquele autor foi estreada em 23 de Agosto de 1996, na edição desse ano do notabilizado Festival de Edimburgo, pela Scotish Opera Orchestra, com encenação de Jonathan Moore.


O seu libreto foi escrito pelo novelista britânico John Clifford, a partir da quase incontornável “A Castro”, de António Ferreira, facto que terá também justificado a sua apresentação em Portugal a 7 e 9 de Julho integrados no Porto 2001 – Capital da Cultura.


Mais recentemente, um jovem compositor suíço Andrea Lorenzo Scartazzini (nascido em 1971) foi o autor de “Wut”, uma opera em língua alemã estreada no Teatro Erfurt (Alemanha) em 9 de Setembro de 2006.

Fontes: José Alberto Vasco (Tinta Fresca) / wikipedia / Ismael Mendes



Outras obras ("Inés de Castro")

- Ópera - Scena ed aria de Carl Maria Friedrich Ernst von Weber"
- Ópera de Julien Duchesne (1864)
- Ópera do compositor uruguaio Tomás Giribaldi (1905)
- Ópera com musica de Gaetano Andreozzi, libretto di Cosimo Giotti (1793)
- Ópera com musica de Giuseppe Cervellini, Ignazio Gerace, Sebastiano Nasolini, Francesco Bianchi e libretto de Luigi De Sanctis (1795)
- Ópera com musica de Niccolò Zingarelli e libretto de Antonio Gasperini (1798)
- Ópera com musica de Vittorio Trento (1803)
- Ópera com musica de Pietro Carlo Guglielmi, libretto de Filippo Tarducci (1805)
- Ópera com musica de Stefano Pavesi, libretto di Antonio Gasperini (1806)
- Ópera com musica de Felice Blangini (ca. 1810)
- Ópera com musica de Giuseppe Persiani, libretto de Salvadore Cammarano e Giovanni Emanuele Bidera (1835)
- Ópera com musica de Thomas Pasatieri e libretto di Bernard Stambler (1976) (E.U.A.)
- Ópera com musica de Vicente Lleó

Videos: Persiani / Zingarelli

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"La Reine Morte", série de TV francesa baseada na obra de Henry de Montherlant (2009)


La Reine morte”, de Henry de Montherlant é a obra que serve de inspiração ao telefilme, realizado por Pierre Boutron, que retrata o tema mais apaixonante da história portuguesa: o romance trágico de D. Pedro com Inês de Castro.

O telefilme foi rodado em várias cidades portuguesas: Guimarães, Tomar, Coimbra. O realizador, Pierre Boutron, pretende dar ao filme uma imagem semelhante a "Romeu e Julieta" embora aqui os interesses sejam a coroa real.


Esta produção envolve uma equipa de 50 pessoas e mais de 500 figurantes, recrutados por casting efectuado pelo Grupo de Teatro Apollo, entre 6 e 8 de Maio, na Casa dos Cubos, em Tomar, ao qual concorreram cerca de 250 candidatos.



Entre os actores mais conceituados destaque para Michel Aumont, no papel de rei (o rei Ferrante), Goëlle Bonna, no papel de Inês de Castro, Thomas Jouanet, no papel de Pedro, Astrid Bergès-Frisbey, no papel da Infanta e Aladin Reibel, no papel de Egas Coelho.

Gaëlle Bona ganhou o prémio de melhor jovem actriz no Luchon International Film Festival de 2009.

A película conta também com um leque de actores português, como André Gago (Álvaro Gonçalves), António Montez (D. Cristoval), Gonçalo Dinis (Capitain Bathala) e António Fonseca (Bispo da Guarda).

Locais de filmagem

Coimbra
Guimarães (Paço dos Duques de Bragança)
Montemor-o-Velho
Tomar (Convento de Tomar)

Fontes: Ansião news / Guimarães Digital / Close mag / Jornal "O Templário"

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A história de Inês de Castro em "A Rainha Morta", peça de teatro de Henry de Montherlant (1942)

A atracção pela história de Pedro e Inês manteve-se na primeira metade do Século XX, prolongando a visão romântica do século anterior, sendo de realçar o sucesso de uma grande tragédia francesa, “La Reine Morte” de Henry de Montherlant que sete anos após a sua apresentação já possuía 144 edições e continuava com um sucesso triunfal.

O personagem em destaque é Afonso IV, sob o nome de Ferrante, que é tratado sob um ponto de vista freudiano.


Nesta tragédia em três actos, Henry de Montherlant mistura conflitos políticos com familiares. No argumento um rei doente – Ferrante - decide matar a mulher que casou secretamente com o filho. Nem ele compreende as razões que o levam a decidir a morte de Inês. No final, o rei morre à frente do cadáver da rainha morta.

Inês tem apenas um sentimento no coração: o amor. Ela nasceu para amar e não sabe fazer outra coisa.

Segundo Jean Louis Cochet, que encenou a peça na década de 70, "La reine Morte" é a tragédia do poder e da fraqueza (“la puissance et de la faiblesse"), da grandeza e da mediocridade ("la grandeur et de la médiocrité"), da velhice e da infância ("de la vieillesse et de l’enfance"), da coerência e da incoerência ("de la cohérence et de l’incohérence"). Tudo isto com o brilho admirável do humor e inteligência do seu autor Henry de Montherlant.


Teatro

"A Rainha Morta" foi publicada em 1942 pela Editora Gallimard, sendo a sua primeira apresentação teatral em 8 de Dezembro de 1942 no Teatro da Comédie-Française, com encenação de Pierre Dux, tendo como protagonistas Jean-Louis Barrault (o Rei Ferrante) e Madeleine Renaud (Inês de Castro).


Henry de Montherlant anotou nos seus Cadernos que a (recepção) geral foi pelo menos morna, e que só após alguns cortes operados no dia seguinte, a peça conhece um real sucesso público. Mas defende-se com ironia ter instilado no seu texto as alusões à actualidade dos tempos de guerra, que os espectadores de todos os quadrantes se mostravam inevitavelmente rápidos a detectar.



Televisão

A obra foi adaptada à televisão em 1961, sob direcção de Roger Iglesis, com  Geneviève Casile (Inès de Castro), Jean Yonnel (Ferrante) e Hubert Noël (Don Pedro).


Fontes: Maria Leonor Machado de Sousa (in "Du personnage au mythe") / Blog "Inês e Pedro na Literatura Estrangeira" / BDFF (Série TV 1962) / Plano Nacional de Leitura

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Ines de Castro" de María Pilar Queralt del Hierro (2004)

María Pilar Queralt del Hierro transporta-nos, como por magia, neste romance histórico, para o longínquo ano de 1622.

Encontramo-nos a assistir a uma conversa entre homens, dos quais se destacam os escritores espanhois Lope de Vega e Luis Vélez de Guevara, quando surge a figura de um fidalgo português que se mostra interessado em contar uma história a Luis Vélez de Guevara. Trata-se da história de Inês de Castro.

Quem seria o misterioso fidalgo português?

A explicação surge pela boca de Luis Vélez de Guevara: a alma penada de D. Afonso IV, condenado, depois da morte, pelo crime que cometeu - "matar uma donzela fraca e sem força" - procura a redenção. Para a conseguir, deve fazer com que a história de Inês de Castro se conheça.

Depois de ouvirem a história dos amores de Pedro e Inês, Luis Vélez de Guevara escreveu a tragédia "Reinar después de morir", enquanto Lope de Vega escreveu "Inés de Castro".

Fonte: Blog "Inês e Pedro na Literatura Estrangeira" (adaptado)


Esta escritora espanhola escolhe para epicentro da história a relação de amizade entre D. Constança e Inês. D. Constança é vista neste livro como uma verdadeira heroína que manteve até ao fim a fidelidade a uma amizade de infância.

A incidência deste livro no feminino não fica por aqui: é interessante verificar como a autora encara as freiras de Santa Clara como verdadeiras heroínas do amor ao condescender com o amor carnal que Pedro dedicava a Inês, pactuando com os seus encontros escaldantes em plenos aposentos do convento.

Um outro aspecto interessantíssimo é a forma como Del Hierro introduz na história Teresa Lourenço (a última paixão de D. Pedro, após a morte de Inês). Esta mulher viria a ser a mãe do grande herói da história de Portugal que foi o rei D. João I, Mestre de Avis) e entra nesta narrativa como uma autêntica heroína, ao lado do rei justiceiro.

Fonte: Blog "Dos meus livros" (adaptado)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Inês de Castro na literatura mundial (II)


O famoso escritor francês Victor Hugo escreveu em 1820 "Inez de Castro", a sua primeira peça (obra inacabada), que era um melodrama em três actos com dois intermédios, apenas publicado em 1863 aquando da edição das suas obras inéditas.

Existem, no entanto, muitos outros exemplos:

Alemanha

- "Inez de Castro", tragédia de F. H. Thelo;
- "Inez de Castro", tragédia de Grottfried von Böhm;
- "Inez de Castro", drama de Joseph Lauff (1894).


Argentina

- “Corona de amor y muerte”, peça de teatro, Alejandro Casona (1955)
- "Una Tragedia Amorosa En El Portugal Medieval", conto de César Fuentes Rodríguez (2000)


Brasil

- "A rainha arcaica", série de 14 sonetos, de Ivan Junqueira (1979)


Espanha

- “Doña Inés de Castro, Reina de Portugal” de Juan Mejia de la Cerda (1612)
- "Reynar despues de morir" de Luis Velez de Guevara (1652)
- "Inés de Castro", Novela, de María Pilar Queralt del Hierro (2003)


E.U.A.

- "A Queen After Death", Romance, de William Harman Black (1933) [chegou a diferenciar as touradas espanholas e portuguesas, apresentando estas como menos sanguinárias]
- Fragmentos de "Cantos" de Ezra Pound (séc. XX)


França

- “Agnes de Castro” de M.lle de Brillac (1688)
- "Inez de Castro", tragédia, de Antoine Houdar de Lamotte (1723)
- "Inez de Castro", novela, da Condessa de Genlis ("Madame de Genlis") (1817);
- "Pierre de Portugal", tragédia em 5 actos de Lucien-Emile Arnaut (1823);
 - "La reine du Portugal", tragédia, de Firmin Dido (1824);
- "La reine morte", drama de Henry de Montherlant (1942)
- “La reine crucifiée”, romance de Gilbert Sinoué (2005)

Holanda

- "Inez de Castro", tragédia, de Rhynius Feith.

Itália

- "Ines de Castro", tragédia, de Davide Bertolotti (1826);
- "Ines di Castro", drama, de Luigi Baudozzi;


Reino Unido

- "Agnes de Castro", tragédia de Aphra Behn (1688)
- "Agnez de Castro", tragédia de Catherine Trotter Cockburn (1696) (que inicialmente assinava "Young Lady";
- "Ines de Castro", drama de Mary Russel Mitford (1841);
- "Inez, the bride of Portugal", tragédia, de Neil Ross (1887).


A peça de Catherine Trotter é uma dramatização em verso da tragédia de Aphra Behn com o mesmo nome.

Fontes: Vicente Cândido / Maria Leonor Machado de Sousa / Blog "Inês e Pedro na Literatura Estrangeira" / Jstor (literatura francesa) / Público

Mais informações: Maria Leonor Machado de Sousa / Fundação Pedro e Inês

(Mais informações sobre Inês de Castro no blog)












sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Inês de Castro na literatura mundial (I)


A vida de Inês de Castro foi imortalizada em diversas peças de teatro, poemas e outras formas de literatura, quer em Portugal (“Lusíadas” de Luís de Camões, “A Castro” de António Ferreira, "D. Pedro" de António Patrício, ...) quer no estrangeiro.

A repercussão em Espanha é fácil de entender, pelo facto de Inês de Castro ser oriunda da Galiza, tendo-se verificado um interesse por parte da poesia popular que se traduziu na publicação de inúmeras obras.


Século XVI

A coroação após a morte e o beija-mão foram transpostos, pela primeira vez, para a literatura erudita em 1577, na tragédia de Jerónimo Bermudez “Nise lastimosa y Nise laureada” (baseada na peça de António Ferreira).




Século XVII

Em 1612, Juan Mejia de la Cerda publica “Doña Inés de Castro, Reina de Portugal” (“Tragédia famosa de Dona Inês de Castro”) no qual é incluído um novo personagem, Rodrigo, amante de Inês, que ao ser rejeitado por Inês convence o rei a ordenar a morte de Inês.

Impresso em Lisboa em 1652, mas escrito antes de 1644, a peça de teatro "Reynar despues de morir" de Luis Velez de Guevara inclui um novo personagem, a Infanta Branca de Navarra, que vem a Portugal para se casar com D. Pedro, denunciando, junto do rei, a relação entre Pedro e Inês.


Contributo das obras espanholas para o mito

Nas obras de Juan Mejia de la Cerda e Luis Velez de Guevara, regista-se o contributo da Espanha para a formação da história, com dois elementos tipicamente associados ao carácter dos espanhóis, o gosto pelo espectáculo (a coroação) e o ciúme violento (Rodrigo e Branca).

Esses novos elementos foram sendo sempre preservados na literatura inesiana. Em 1930, a inglesa Anette Mekian publicou uma obra algo próxima ao texto de Luis Velez de Guevara e foi esta tradição que influenciou as duas maiores tragédias do século XX, “La Reine Morte” (1942) de Henri de Montherland e “Corona de amor y muerte” (1955) do autor argentino Alejandro Casona.

Fontes: Maria Leonor Machado de Sousa (in "Du personnage au mythe") / Blog "Inês e Pedro na Literatura Estrangeira" / Escrito com sangreTeatro Selecto

(Mais sobre Inês de Castro no blog)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Les amants d’Alfama" de Sérgio Kokis (2003)

O livro "Les amants d’Alfama" do escritor quebequense de origem brasileira Sérgio Kokis, publicado em 2003, foi inspirado em "Une nuit à Lisbonne" de Camille Saint-Saëns que o autor considera ser o melhor "romance" escrito sobre a capital de Portugal.

O escritor nasceu em 1944 no Rio de Janeiro, tendo-se exilado, ainda na década de 60 em França, onde se licenciou em Psicologia, e, mais tarde, no Canadá onde trabalhou durante muito tempo, no domínio da Psicologia.

Todos os livros de Sérgio Kokis foram redigidos em Língua Francesa, a sua língua de uso, apesar de ser o Português a sua língua materna, que, de resto, domina com mestria.

Sinopse

É o dia de "Todos-os-Santos", em Lisboa. Joaquim Varga descobre que a sua amante, Matilda Lenz, optou por voltar à sua Bélgica natal. Pensando em suicídio, o professor de matemática faz uma pausa num restaurante, onde um homem de idade conta histórias sobre amores perdidos (...)

Depoimento de Sérgio Kokis

"Todas as aventuras são uma busca contínua de si mesmo, da sua consciência. Foi isto que eu quis mostrar nesta aventura de uma noite em Lisboa. Nos encontros que o Joaquim vai tendo com as várias pessoas que vai encontrando, conta a sua história. E ouve as histórias dos outros. E ao ouvir as histórias dos outros aprende mais sobre si e sobre o sentimento de perda e o desgosto que o faz sofrer. A nossa lucidez está na nossa própria cabeça. (...) "

O amor por Portugal

É muito diferente o Portugal de Sérgio Kokis de o “seu Brasil”. Portugal, descobriu-o há cerca de cinco anos e, desde então, tem lá ido todos os anos, pois apaixonou-se pelo país, pela sua história, pela cultura, comida e povo e pela sua possante literatura, destacando, sobretudo, Miguel Torga e Vergílio Ferreira.

Fontes: Teia portuguesa / Amazon

Mais informações: entrevista

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Une nuit à Lisbonne" de Camille Saint-Saëns (1881)

Camille Saint-Saëns (1835-1921) foi um famoso compositor e músico francês, tendo publicado em 1881 "Une nuit a Lisbonne" uma barcarola dedicada ao Rei D. Luís de Portugal.

Exotismo de Lisboa ?

No romantismo da Europa ocidental a procura do exótico poderia não afastar-se muito da terra de origem. As muitas incursões no repertório espanhol, especialmente andaluz, por parte de vários compositores do norte da Europa são disso um exemplo.

Assim, não se deverá enquadrar a barcarola "Une Nuit à Lisbonne", composta por Saint-Saëns apenas um ano depois de "Suite Algérienne", de uma forma diferente do restante repertório de viagem do autor.

O pitoresco está novamente presente nesta pequena peça que apresenta um único motivo temático, explorado pela instrumentação rica de uma orquestra já mais reduzida.

Novamente as imagens visuais parecem impor-se sobre o som, aludindo, até pelo próprio subtítulo, ao balançar constante do rio colado à cidade.

(...) em "Une Nuit à Lisbonne" o descritivo quase pictórico parece apontar para uma mera nostalgia de vivência, ainda evidentemente romântica mas muito menos exacerbada

Gôndolas no Tejo ?

Uma barcarolla é uma música de carácter folclórico cantada pelos gondoleiros de Veneza ou uma peça musical escrita em tal estilo.

No estuário do Tejo não há obviamente gôndolas. Também não há tradição de se cantar nos barcos portugueses. Nem há barcarolas na história da Marinha Portuguesa ...

Talvez Camille Saint-Saëns tenha apenas sonhado ...

Fontes: Tiago Cutileiro / Briefe an Konrad

Ligações: Partitura, audio

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Lisbonne" de Alain Barriére (1961) e Robert Desnos (1931)

Robert Desnos (1900-1945) foi um poeta surrealista francês falecido durante a 2ª guerra mundial no campo de concentração de Theresienstadt (Checoslováquia).

Apaixonado por Youki (a belga Lúcie Badoud), com quem vivia desde 1930, representou-a como uma sereia em alguns dos seus poemas, nomeadamente no longo poema "Siramour" (contração de Sereia e Amor), publicado em 1931, que contém várias referências à cidade de Lisboa.

Em 1962, o cantor francês Alain Barriére lançou o seu segundo EP, com 4 novas canções, sendo "Lisbonne" construída a partir do texto de Robert Desnos com música do próprio cantor.

O tema foi igualmente incluído no disco ao vivo "Concert Musicorama, volume 2".

Porquê Lisboa ?

A priori, este belo poema (como muitos outros!) Não significa muito ... Mas já se sabe que na obra de Desnos, a sereia é a sua namorada Yuki.

Mas porquê Lisboa ? Certamente por ser um porto (apropriado para as sereias) localizado numa região do sul. Mas será que Youki viveu em Lisboa no passado ? Ou será apenas para rimar com "bella donne" ...

Outras versões

O texto de Robert Desnos foi também musicado por Serge Renard e interpretado por Colombe Frezin no seu disco de homenagem a Robert Desnos (publicado em Março de 2003).

E existe igualmente uma terceira versão interpretada por Michel Arbatz no disco "Vous avez le bonjour de Robert Desnos"(1995).

Letra

Nous irons à Lisbonne
Âme lourde et cœur gai
Cueillir la belladone
Au jardin que j'avais

Lisbonne est jolie
La fumée des vapeurs
Sous la brise mollie
Prend des formes de fleurs

Jadis, une sirène
A Lisbonne vivait
Semez, semez la graine
Au jardin que j'avais

(...)



Texto original (Poema)

Semez, semez la graine
Aux jardins que j'avais.
Je parle ici de la sirène idéale et vivante,
De la maitresse de l'écume et des moissons de la nuit
Où les constellations profondes comme des puits grincent de toutes
leurs poulies et renversent à plein seaux sur la terre et le sommeil
un tonnerre de marguerites et de pervenches.
Nous irons à Lisbonne, ame lourde et coeur gai
Cueillir la belladone aux jardins que j'avais.
Je parle ici de la sirène idéale et vivante,
Pas la figure de proue mais la figure de chair,
La vivante et l'insatiable,
Vous que nul ne pardonne,
Ame lourde et coeur gai,
Sirène de Lisbonne,
Lionne rousse aux aguets,
Je parle ici de la sirène idéale et vivante.
Jadis une sirène
A Lisbonne vivait.
Semez, semez la graine
Aux jardins que j’avais.
(...)

Fontes: página oficial de Alain Barriére / wikipédia / wikilivres

Audio