terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Amália Rodrigues - a loucura Italiana (1970s)

Depois do sucesso alcançado nos países por onde passou, Amália ruma pela primeira vez a Itália. Estavamos em 1970 e dava-se assim início à La folie per la Rodrigues. 

O sucesso em Itália fora estrondoso. Franco Fontana, o seu empresário italiano, afirma ter sido a única artista estrangeira a conseguir a proeza de dar espectáculos por todo o país. Todas as pequenas terras de norte a sul de Itália tiveram assim a oportunidade de a ouvir cantar e aplaudir o seu talento. 

A sua popularidade alcançou uma dimensão sem precedentes levando Pallavicini e Mescoli a escrever para a sua voz o tema "Il Cuore Rosso Di Maria", que tantas vezes era solicitado pelo público em espectáculos. 

Em 1973 durante três noites aprendeu doze cantigas de folclore italiano, em dialecto siciliano, napolitano, romano e veneto. Assim saiu o disco "A Una Terra Che Amo". Um disco quase improvisado que demonstra perfeitamente a capacidade invulgar de adaptação que Amália possuía.

Ninguém acreditava que fosse possível, nem os guitarristas nem a própria Amália, mas o certo é que o disco fez-se e foi um sucesso enorme por toda a Itália. Gerou-se assim a loucura italiana pela signora Rodrigues, que encantava quando no palco pedia desculpa pela pronúncia, benzia-se e depois presenteava a plateia com os temas do folclore italiano. 

O texto que se segue fez parte de um jornal italiano do dia 13 de Janeiro de 1970. 

Roma, 1970 

"Um canto dulcíssimo, entrecortado por ímpetos de paixão, sublinhado por uma vigorosa base rítmica. O pensamento é transportado para o episódio de Ulisses agrilhoado, quando ouve o canto enfeitiçador das sereias, entre Cila e Caribdes. E o público que ontem à noite fazia transbordar o Sistina, estava também como que enfeitiçado na cadeira, arrebatado pela voz de Amália Rodrigues. Foi um triunfo. Nunca se viu o Sistina tão apinhado, nunca se registaram aplausos tão intensos, nunca se ouviu pedir bis com tanta insistência. O primeiro espectáculo italiano da Rainha do Fado não podia ter sido um sucesso maior. 

(Marcelo Frantoni, Incanta Amália Rodrigues, in "Il Tempo")

Fonte: Catarina Rocha(em "Portal do Fado")

domingo, 15 de novembro de 2020

Amália na revista "Life" (1952)

 

Estava eu, vasculhando os arquivos da LIFE Magazine (já nem me lembro do que procurava), quando dei com uma fotos de Allan Grant (Fotografo da revista LIFE), que só diziam: "Edith Piaf & Amolia". 

Cliquei para ver as fotos, pensando que ia encontrar fotos da Edith Piaf, já que o nome Amolia não me dizia nada, quando se me depara um monte de fotos de Amália, apenas com a indicação da data (setembro de 1952) e do fotografo. Algumas das fotos são de excelente qualidade, outras nem por por isso. Aqui ficam para quase todos. 

 


Em 1952 Amália actua pela primeira vez em New York, no Night-Club, La Vie en Rose, onde ficará 14 semanas em cartaz.Torna-se no ano seguinte, na primeira artista portuguesa a cantar na televisão americana no famoso programa Coke Time with Eddie Fisher, onde interpreta Coimbra. Actua em festas e na rádio. Chegou a receber convites para actuar na Broadway, cantando cantigas em Inglês. 

No ano seguinte editou o seu primeiro LP nos EUA (as gravações anteriores eram em discos de 78 rotações), "Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal and Flamenco From Spain", lançado em 1954 pela Angel Records, assinala a sua estreia no formato do long-play, a 33 rotações, criado apenas seis anos antes e, na época, ainda longe de conhecer a expressão de mercado que depois viria a conquistar. O álbum, que seria editado em 1957 em Inglaterra e, um ano depois, em França, nunca teve prensagem portuguesa. 

 

Por exigência do mercado americano, Amália gravou alguns flamencos e a propósito conta-se que Orson Welles perguntou um dia, em Madrid qual era a maior cantora de flamenco e os madrilenos responderam que era portuguesa, vivia em Lisboa e chamava-se Amália. 

Fonte: citizengrave.blogspot.pt (em "Portal do Fado")

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Excertos de Amália pelo mundo (em documentário "Estranha Forma de Vida")

Participação no Programa "Coke time" com Eddie Fisher e Don Ameche (1953), que foi a primeira apresentação de um artista português na TV a nível mundial.






 Actuação durante dois meses na Boate "Mocambo" em Hollywood (1954)



Participação no filme promocional "April in Portugal" (1955)


"Las canciones unidas" na TV Mexicana (1955) 

"Musicas de Siempre" na TV Mexicana (1956)


Concertos no L'Olympia (1956) a convite de Bruno Coquatrix


Festival de Edimburgo (1962)


 Gala dedicada a Charles Trenet (1963)


Actuação em Beirute na Igreja de São Francisco (1963)

Participação no "Cirque d' Hiver" da Gala "L'union des artists" (1965)

Concertos nos EUA com Orquestra Sinfónica dirigida por Andre Kostelanetz (1966)


 Concerto no L'Olympia em Paris (1967)

Concertos na URSS (1969)

Longa digressão por Itália (1973)

Fotos: "Estranha Forma de Vida" de Bruno de Almeida

Mais informações: (1)

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Ercília Costa, a primeira fadista com projecção internacional


Ercília Costa (Costa de Caparica, 1902-1985) foi uma actriz de revista, compositora e fadista portuguesa. Foi a primeira fadista portuguesa de projecção internacional, a primeira a fazer uma digressão no estrangeiro. 

Popular na primeira metade do século XX, tempos em que recebeu as alcunhas de "Sereia peregrina do Fado", "Santa do Fado" e "Toutinegra do Fado", o seu nome é hoje pouco recordado, visto que as gravações discográficas que realizou são anteriores à década de 1950, altura em que o disco gravado começou a popularizar-se em solo luso. 

 

Foi a estrela de maior fulgor na década de 30 e de início dos anos 40, chegando a actuar em França, Espanha, Estados Unidos  da América (em 1939 e 1947), Brasil (1936-1937, 1938 e 1945), Uruguai e Argentina, onde encantou plateias e colheu excelente crítica. 

Em 1936 inicia uma série de espectáculos no Brasil, integrada na Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino, actuando no Teatro República, no Rio de Janeiro, na revista "Peixe Espada" e no Cassino Antárctica, em São Paulo, na revista “Sol de nossa Terra”.

 

Além dos inúmeros espectáculos, cantou ao microfone da Emissora Nacional Brasileira e no maior teatro do Brasil, o Teatro República. 

No final de 1936 regressa ao Brasil para participar, ainda com a "Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino", nas revistas “Arraial” e “Ai Ló”. 

Actuou no início de 1937 nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo bem como na emissora nacional brasileira P.R.E. 8, antes de regressar a Portugal em Fevereiro de 1937.

 

Ainda em 1937, Ercília Costa viaja até Paris para actuar na Exposição Universal de Paris, numa récita de gala no Grande Teatro dos Campos Elísios, em Paris, a convite do Secretariado de Propaganda Nacional (S.P.N.). E participa igualmente numa emissão da Rádio-Parisiènne. 

Em 1938 participa em Portugal na Opereta “Coração de Alfama”, que posteriormente é apresentada no Brasil no teatro Recreio também com a participação da fadista. Ainda nesse ano faz parte do elenco da peça “Oláré quem brinca” no Teatro Recreio e depois no Alhambra, na Cinelândia no Rio de Janeiro.

Também em 1938 conseguiu um contrato para a Argentina, com a Alubra Rádio Films de Buenos Aires, sendo acompanhada pelo cantor luso-brasileiro Manoel Monteiro e pelos músicos António Rodrigues e Gonçalves Dias.


Em 1939 desloca-se aos Estados Unidos, a convite do Secretariado de Propaganda Nacional - e do embaixador de Portugal João Bianchi -  para actuar, conjuntamente com Carlos Ramos, num espectáculo no Pavilhão Português da "Feira Mundial de Nova Iorque". 

A esta actuação na grande exposição de Nova Iorque seguem-se dez meses de actuações por 26 Estados, nomeadamente na Califórnia onde actua com grande sucesso em Los Angeles e em Hollywood, onde conheceu artistas como Bing Crosby, Gary Cooper, Carmen Miranda e outros astros de Hollywood.

Recebeu um convite para cantar na Universidade de Oakland, Califórnia. Trajando roupas típicas da terra portuguesa, encantou e obteve uma consagração. Não houve um só professor, nem sequer um aluno que a deixasse de aplaudir, a ponto de oferecerem-lhe um almoço, no qual tomaram parte os cônsules português e brasileiro. 


Em 1945 realiza a sua terceira digressão no Brasil, actuando como vedeta internacional da Companhia brasileira Jararaca - Ratinho - Alda Garrido e participando, durante quinze meses, em espectáculos em teatros, cinemas e estações de rádio.

A Revista "A Cena Muda" dá destaque à cantora portuguesa realçando que "é a terceira vez que vem ao Brasil para trabalhar em nossos palcos, o que bem justifica sua aceitação pelo povo brasileiro. Das vezes anteriores ela acompanhou elencos portugueses. Agora porem, trabalha numa companhia bem nossa, onde pontificam quatro cômicos popularíssimos".


As suas primeiras gravações discográficas datam de 1929, altura em que se deslocou a Madrid para gravar para a Odeon, integrando uma comitiva constituída por Berta Cardoso, Joaquim Campos e Cecília de Almeida, sendo todos os fadistas acompanhados pela guitarra portuguesa às mãos de Armandinho e pela viola de Georgino de Sousa. 

Posteriormente terá também edições discográficas em Portugal, bem como no Brasil e nos Estados Unidos. 

No Teatro República, no Rio de Janeiro, terá sido descerrada uma lápide em sua homenagem comemorativa da sua passagem pelo Rio de Janeiro. 

No Brasil realizou-se uma exposição de fotografias suas intitulada "A Maga do Fado que o Brasil não esquece".

Fontes: Museu do Fado  / Tese de Cátia Sofia Ferreira Tuna "Não sei se canto se rezo" / Videograma de Nunes Forte  / "Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira" com coordenação de Thais Matarazzo / Página do FB do livro "Ercília Costa - Sereia Peregrina do Fado" + Entrevista de Germano Campos a Jorge Trigo aquando da sua edição (I)(II) / Revista "A Cena Muda" / Gandaia.info / Nunes Fortes (youtube) / David Ferreira a cantar (I) / wikipedia



segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Partituras de Fado do início do Século XX


A editora espanhola "Berrocal Libros Antiguos" disponibilizou, em 2016, um catálogo ilustrado de música popular dos séculos XIX e XX composto por 118 partituras. O repertório é muito variado e está organizado da seguinte forma: Hinos e marchas militares (12), Habaneras (3), Canção espanhola (30), Tangos (9), Fox-trot (10), Fados (9), Zortzicos (2), Cuplés (2), Zarzuela (8), Opereta (6), Boleros (1), Clássico (3), Valsas (8), Vários (15).

A designação “fado” poderia ser genericamente aplicada pelos compositores para designar alguns números cantados em Revistas, coincidindo, por vezes, com o termo “canção”.  Geralmente, as capas incluíam o título, o nome do compositor, uma designação da tipologia (“fado-marcha”, “fado-slow”, “fado-fox” entre outras), e uma frase apelativa ao consumidor, referindo o contexto no qual foi popularizada a canção (teatro de revista, opereta, rádio, cinema).

As sub-designações que figuravam paralelamente nas edições de fado remetem para tipologias de dança, sendo de notar o hibridismo de estilos e a emulação da música de dança anglo-saxónica e latino-americana.

 1 - "Quem canta seu mal espanta" (1920). Música e letra. 

Música de Prudencio Muñoz (1877-1925), compositor espanhol, natural de Málaga, que foi autor de diversas obras para Teatro musical. Edição da partitura de Manuel Villar (8 pp.).

Existe uma gravação deste tema pela Seleccion de Profesores da Oquestra de Madrid.



Link: audio (instrumental / pianola)

 2 - "Lulu - Fado" - "Le vrai fado portugais”.

Da autoria do Compositor Brasileiro Nicolino Milano (1876-1962), que esteve imigrado em Portugal no início do Século XX. Editions Edouard Salabert, 1920 (8 pp.)



3 - "Um fado triste" para piano

Composição portuguesa da autoria de J. Duarte da Silva (dedicado “Ao meu prezado amigo Manoel Simões Vaz). Editores Sassetti & C.ª (8 pp.)


4 - "Fado 31"

Famoso fado de Alves Coelho. É referido na partitura que se trata de uma criação da gentil artista Purita Mignon. Letra espanhola de Biorito e Ribé, Música de Alves Coelho . Ed. Unión Musical Española (4 pp.)


"O 31" foi um caso de enorme sucesso, na medida em que se manteve em cena durante cerca de uma década (de 1913 a 1922), em vários teatros de Portugal e do Brasil, actualizando-se sucessivamente quer no que diz respeito a elencos e vedetas, quer no que concerne aos próprios textos.



 À semelhança de outras canções editadas, do "Fado do 31" foi realizada uma versão em castelhano com vista a exportação

Publicitadas exclusivamente pela capa, a edição portuguesa apresenta a fotografia da actriz Maria Vitória, que celebrizou esse fado no teatro e a edição espanhola conta com a fotografia de uma outra intérprete (Purita Mignon, com letra de Biorito e Ribé), adaptando-se desta forma ao sistema de vedetas desse país.


O "Fado Maria Victória" de Alves Coelho foi igualmente adaptado por Biorito e Ribé.



5 - "Fado Liró". Canção popular portuguesa.

Letra de Nan de Allariz (Alfredo Fernández) (1875-1927), Adapt. De L. Rais . Edição de Faustino Fuentes, 1920 (8 pp.)

Edição francesa "Edouard Salabert"

O "Fado Liró" é de autoria do compositor e músico brasileiro Nicolino Milano (na partitura é referido que se trata do 3º fado do autor). Foi composta em 1905, e no ano seguinte, Nicolino viajou para Portugal, onde participou da montagem da revista teatral ABC, com a sua música, que passou a integrar a letra de Acácio de Paiva.


Em 1909, essa companhia de teatro vai actuar no Brasil e aí começa a se destacar, sendo gravada na voz da dupla "Os Geraldos"(1909) e Mário Pinheiro (1910), entre outros.


6 - "Fí - Fí" . Fado Greco - lusitano.

Opereta bufa em três actos. Adaptação de Miguel Mihura e González del Toro da Opereta de Henri Christiné, com música de Celestino Roig (12 pp.)

"Fado Greco - lusitano" é uma das primeiras composições desta adaptação espanhola. 


"Phi Phi" é uma famosa opereta francesa com música de Henri Christiné e libreto de Albert Willemetz e Fabien Sollar.


7 - "Ay-ay-ay"

Célebre canção crioula cantada pelo notável tenor Tito Schipa (Raffaele Attilio Amedeo Schipa, Lecce, 1888 - Nova York, 1965) que foi um tenor lírico italiano de renome internacional) (4 pp.)

Será das partituras com menor ligação ao Fado pois inclusive foi gravada noutros estilos musicais.


8 - "Fado Apache".

Criação de Raquel Meller (de seu nome Francisca Marqués López, também conhecida por Argentinita) (1888-1962) que foi durante os anos 20 e 30 do Século XX a artista espanhola de maior êxito internacional.

"O Fado Apache" tinha letra de Enderiz e música de Monreal e Martra. Ed. Ildefonso Alier (8 pp.)

Foi igualmente interpretado por Paquita Garzon 
 

9 - "Caixa da guitarra". Fado. 

Criação e grande êxito de Mary Focela (Mari-Focela) com letra de Leopoldo G. Blat e Copérnico Olver e música de Pedro Palau (8 pp.).

Estreou em "El relicario", um dos cuplés mais famosos de todos os tempos.

 


Fontes/Mais informações: Berrocal / "A Edição de Música Impressa enquanto Agente de Mediatização do Fado: O Caso do Fado do 31" de Gonçalo Antunes de Oliveira, João Silva e Leonor Losa em Revista Etno-Folk / Marcelo Bonavides (sobre Nicolino Milano)