terça-feira, 15 de setembro de 2020

Ercília Costa, a primeira fadista com projecção internacional


Ercília Costa (Costa de Caparica, 1902-1985) foi uma actriz de revista, compositora e fadista portuguesa. Foi a primeira fadista portuguesa de projecção internacional, a primeira a fazer uma digressão no estrangeiro. 

Popular na primeira metade do século XX, tempos em que recebeu as alcunhas de "Sereia peregrina do Fado", "Santa do Fado" e "Toutinegra do Fado", o seu nome é hoje pouco recordado, visto que as gravações discográficas que realizou são anteriores à década de 1950, altura em que o disco gravado começou a popularizar-se em solo luso. 

 

Foi a estrela de maior fulgor na década de 30 e de início dos anos 40, chegando a actuar em França, Espanha, Estados Unidos  da América (em 1939 e 1947), Brasil (1936-1937, 1938 e 1945), Uruguai e Argentina, onde encantou plateias e colheu excelente crítica. 

Em 1936 inicia uma série de espectáculos no Brasil, integrada na Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino, actuando no Teatro República, no Rio de Janeiro, na revista "Peixe Espada" e no Cassino Antárctica, em São Paulo, na revista “Sol de nossa Terra”.

 

Além dos inúmeros espectáculos, cantou ao microfone da Emissora Nacional Brasileira e no maior teatro do Brasil, o Teatro República. 

No final de 1936 regressa ao Brasil para participar, ainda com a "Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino", nas revistas “Arraial” e “Ai Ló”. 

Actuou no início de 1937 nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo bem como na emissora nacional brasileira P.R.E. 8, antes de regressar a Portugal em Fevereiro de 1937.

 

Ainda em 1937, Ercília Costa viaja até Paris para actuar na Exposição Universal de Paris, numa récita de gala no Grande Teatro dos Campos Elísios, em Paris, a convite do Secretariado de Propaganda Nacional (S.P.N.). E participa igualmente numa emissão da Rádio-Parisiènne. 

Em 1938 participa em Portugal na Opereta “Coração de Alfama”, que posteriormente é apresentada no Brasil no teatro Recreio também com a participação da fadista. Ainda nesse ano faz parte do elenco da peça “Oláré quem brinca” no Teatro Recreio e depois no Alhambra, na Cinelândia no Rio de Janeiro.

Também em 1938 conseguiu um contrato para a Argentina, com a Alubra Rádio Films de Buenos Aires, sendo acompanhada pelo cantor luso-brasileiro Manoel Monteiro e pelos músicos António Rodrigues e Gonçalves Dias.


Em 1939 desloca-se aos Estados Unidos, a convite do Secretariado de Propaganda Nacional - e do embaixador de Portugal João Bianchi -  para actuar, conjuntamente com Carlos Ramos, num espectáculo no Pavilhão Português da "Feira Mundial de Nova Iorque". 

A esta actuação na grande exposição de Nova Iorque seguem-se dez meses de actuações por 26 Estados, nomeadamente na Califórnia onde actua com grande sucesso em Los Angeles e em Hollywood, onde conheceu artistas como Bing Crosby, Gary Cooper, Carmen Miranda e outros astros de Hollywood.

Recebeu um convite para cantar na Universidade de Oakland, Califórnia. Trajando roupas típicas da terra portuguesa, encantou e obteve uma consagração. Não houve um só professor, nem sequer um aluno que a deixasse de aplaudir, a ponto de oferecerem-lhe um almoço, no qual tomaram parte os cônsules português e brasileiro. 


Em 1945 realiza a sua terceira digressão no Brasil, actuando como vedeta internacional da Companhia brasileira Jararaca - Ratinho - Alda Garrido e participando, durante quinze meses, em espectáculos em teatros, cinemas e estações de rádio.

A Revista "A Cena Muda" dá destaque à cantora portuguesa realçando que "é a terceira vez que vem ao Brasil para trabalhar em nossos palcos, o que bem justifica sua aceitação pelo povo brasileiro. Das vezes anteriores ela acompanhou elencos portugueses. Agora porem, trabalha numa companhia bem nossa, onde pontificam quatro cômicos popularíssimos".


As suas primeiras gravações discográficas datam de 1929, altura em que se deslocou a Madrid para gravar para a Odeon, integrando uma comitiva constituída por Berta Cardoso, Joaquim Campos e Cecília de Almeida, sendo todos os fadistas acompanhados pela guitarra portuguesa às mãos de Armandinho e pela viola de Georgino de Sousa. 

Posteriormente terá também edições discográficas em Portugal, bem como no Brasil e nos Estados Unidos. 

No Teatro República, no Rio de Janeiro, terá sido descerrada uma lápide em sua homenagem comemorativa da sua passagem pelo Rio de Janeiro. 

No Brasil realizou-se uma exposição de fotografias suas intitulada "A Maga do Fado que o Brasil não esquece".

Fontes: Museu do Fado  / Tese de Cátia Sofia Ferreira Tuna "Não sei se canto se rezo" / Videograma de Nunes Forte  / "Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira" com coordenação de Thais Matarazzo / Página do FB do livro "Ercília Costa - Sereia Peregrina do Fado" + Entrevista de Germano Campos a Jorge Trigo aquando da sua edição (I)(II) / Revista "A Cena Muda" / Gandaia.info / Nunes Fortes (youtube) / David Ferreira a cantar (I) / wikipedia



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