O teatro de revista, como a opereta, também nasceu francês. Em seguida, foi para Portugal e, de lá, foi para o Brasil. O primeiro grande sucesso do teatro de revista no Brasil foi o espectáculo "Tintim por Tintim", do empresário português António de Souza Bastos.
A companhia portuguesa chegou ao Brasil em agosto de 1892, após ter estreado, em Lisboa, em março de 1889, e realizado trezentas e quinze apresentações antes de desembarcar no Brasil. Foi um recorde inigualável.
Pressionado pela censura que proibiu críticas e alusões políticas, o teatro de revista em Portugal quase desapareceu. Foi então que Souza Bastos, sem se dar por vencido, encontrou uma saída: caprichou na cenografia, cuidou muito dos figurinos, foi buscar belas e atraentes actrizes e procurou aumentar a malícia e a cumplicidade entre elas e os espectadores, que se divertiam com as coristas e com as brincadeiras de duplo sentido.
Pepa Ruiz: um double sens em uma vedeta transcontinental |
"Tintim por Tintim" apresentava fantasia, alusões sexuais, duplos sentidos eróticos e nenhuma crítica social ou a políticos. O texto era somente pretexto para o desfile de mulheres. Esta proposta está claramente definida em uma das falas do personagem Lucas, o compère português, no famoso quadro da Cozinha Dramática que inaugurou a moda de colocar lindas mulheres vestidas de sal, pimenta e comidinhas diversas.
A primeira montagem de "Tintim por Tintim" correu o Brasil, apresentando-se em diversos teatros existentes. Posteriormente, o texto desta revista portuguesa foi o mais remontado no País por grupos brasileiros, durante anos e anos.
Quando chegou, a companhia portuguesa fez, de início, mais de cem apresentações consecutivas, influenciando os autores brasileiros e mostrando a possibilidade de se substituir a força da crítica política pela força dos apelos sexuais.
A grande "vedete" dessa revista era Pepa Ruiz (1859-1922), a espanhola que era casada com Souza Bastos e que acabou por se especializar em personagens típicas brasileiras. Sua primeira experiência foi fazendo uma baiana que cantava e requebrava um "lundu" chamado "Mugunzá", na versão brasileira de "Tintim por Tintim"...
Com esse número (que é considerado por alguns autores como um dos primeiros arquetipos do teatro de revista e da estilização da figura da baiana), ela ficou mais conhecida ainda, pois sabia extrair, como ninguém, os efeitos maliciosos de uma comida que, fora da Bahia, quase ninguém conhecia na época.
Fonte: "O Sistema Vedete" de Neyde Veneziano (em "Repertório", Salvador, nº 17, p.58-70, 2011.2) (adaptado)
Fotos / Mais informações: Blog "Guia dos Teatros" (Souza Bastos) / Fabulásticas (Pepa Ruiz) / artigo "Pepa Ruiz tim tim por tim tim: um double sens em uma vedeta transcontinental" de Marilda Santana Silva em "Revista Gama" / TNDM (lançamento do livro sobre Souza Bastos) / Duarte Ivo Cruz / Comunidade Teurgica Portuguesa / Salas de cinema de SP2
No primeiro volume da sua obra “História do Teatro de Revista em Portugal”, Francisco Rebello comenta: "o texto [de "Tim tim por tim tim"] sofreu inúmeras modificações ao longo de todos esses anos, consoante o lugar e a época em que era representada. Mas a sua estrutura básica manteve-se.
No prólogo, comum a todas as versões, cuja acção decorre na gruta de Calipso, Ulisses despede-se da ninfa em cuja ilha viveu momentos de amor e repouso, e entre coros e modinhas prepara-se para revisitar a cidade que à beira do Tejo fundou.
Daí em diante a revista contava com as andanças do herói mitológico, em companhia do pitoresco ‘Lucas, marceneiro aposentado’, por lugares reais ou fictícios, que variavam, bem como as figuras intervenientes, de umas versões para as outras".
Em 1892, a peça se apresenta, pela primeira vez, no Brasil, já com modificações substanciais. A Revista representada no Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, já diferia da peça representada em Lisboa.
Fontes: "De Lisboa para o mundo - Ensaios sobre o Humor Luso-Hispânico" de Laura Areia e Luis Pinheiro / Alberto Tibalj
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