Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado Coelho (1831-1900) foi o pioneiro e o mais destacado defensor da estética realista e um dos maiores actores do teatro brasileiro na segunda metade do século XIX, período em que esta arte se tornava o mais popular entretenimento público e o mercado ainda era dominado pelos autores, actores e empresários portugueses.
Chegou ao Rio de Janeiro em 1856, associando-se logo ao Teatro Ginásio Dramático, onde trabalhou como ensaiador. Fez sua estreia como actor no ano seguinte, em temporada pelo Rio Grande do Sul.
De volta ao Rio em 1858, foi contratado como primeiro actor do Ginásio, na companhia de Joaquim Heliodoro. E em 1860 instalou-se com a sua própria companhia no Teatro de São Januário, que passou a se chamar Teatro de Variedades.
Seu sucesso foi rápido, obtendo aplaudidas interpretações em peças de Dumas Filho, Émile Augier, Octave Feuillet, Émile Zola e Théodore Barrière, que o tornaram um sério rival para João Caetano, que até então era o grande astro da cena carioca.
A actriz portuguesa Eugénia Câmara chegou ao Rio de Janeiro em 1859, a convite de Furtado Coelho, que chegou a ser seu amante (antes da actriz portuguesa se envolver sentimentalmente com o poeta brasileiro Castro Alves), tendo se estreado nesse mesmo ano no Ginásio Dramático.
Eugénia Câmara |
E em 1861, Furtado Coelho voltou para o Ginásio com uma nova companhia, a Sociedade Dramática Nacional, que encenava principalmente autores nacionais e teve um importante papel no estímulo à dramaturgia brasileira.
Intelectuais como Fagundes Varela, Artur Azevedo e Machado de Assis eram grandes apreciadores do seu talento. Fagundes inclusive publicou um poema em sua homenagem no Correio Paulistano.
No início da década de 1870, após o apogeu dos grandes dramas e das comédias sofisticadas, Furtado passou a dar prioridade aos géneros mais ligeiros e populares: as operetas, as farsas e paródias, os melodramas e as revistas musicais, com seus cenários e efeitos cénicos extravagantes.
Furtado Coelho decidiu sair do Theatro Gymnasio — cuja direcção passou para o actor cómico português José Antônio do Valle — e construiu seu próprio teatro, o luxuoso São Luiz.
A momentosa inauguração da nova sala ocorreu no dia 1º de janeiro de 1870, com direito à presença de toda a família imperial. A peça escolhida foi o drama em cinco actos "A Morgadinha de Val-Flor", do autor português Pinheiro Chagas, amigo de Furtado.
O texto estreara em Portugal em abril do ano anterior com grande sucesso, trazendo como protagonista a famosa actriz Emília Adelaide.
Casou em 1872 com a actriz portuguesa Lucinda Simões (1850-1928), filha do actor Artur Simões, que foi para o Brasil em 1871, aos 21 anos, sendo pais de Lucília Simões.
Em 1875 o casal assume a direcção do Teatro Variedades em Portugal. A temporada de 1876 no Brasil teve duração de 3 meses, com início no dia 5 de outubro e encerramento no dia 24 de Dezembro de 1876. Entre 1877 e 1879 arrendaram o Teatro Carlos Gomes no Brasil, e entre 1880 e 1886 tiveram sede no Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, uma homenagem do seu marido.
Foi com o marido, na Empresa Simões e cia. Dramática, que Lucinda fez a maioria das suas actuações no Brasil e em outros países, como Espanha
Ocasionalmente se apresentavam em outras companhias e teatros. Entre os outros actores da troupe estavam Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa e Gabriela da Cunha, todos portugueses e também importantes para a difusão da escola realista no Brasil.
A Companhia de Furtado Coelho foi um celeiro de talentos onde, entre outros, iniciou sua carreira a maior actriz brasileira do século XIX, a baiana Ismênia dos Santos, e onde se popularizou sua contemporânea e sucessora, a maranhense Apolônia Pinto.
Lucinda Simões chegou a afirmar: "eu nasci em Lisboa, casei-me no Brasil e sou espanhola de coração". A estreia da Companhia portuguesa no Teatro de la comedia de Madrid foi um grande acontecimento de 1883 com a comédia “El demi-monde”, que proporcionou um verdadeiro triunfo a Lucinda Simões e Furtado Coelho, as duas estrelas que entusiasmaram o público espanhol.
Mas os críticos ainda apreciaram mais a sua actuação com a Companhia de Emilio Mario no Teatro de la Comedia, representando em português enquanto o resto dos actores representava em espanhol. Um crítico comentou que possivelmente se entendia tudo porque ela falava em português do Brasil
A actuação de Lucinda Simões, no Teatro de la comedia de Madrid, contemplava três comédias, sendo uma em português, “A roca de Hércules”, outra em francês, “Le premier cheveu blanc” e outra em espanhol, escrita para si pelo escritor José Echegaray, no qual contracenou com um dos actores espanhóis do momento.
No Rio conquistaram os favores da família imperial brasileira, tendo sido contratados como residentes da corte na temporada de 1886. Furtado criou e dirigiu muitas companhias, e com elas fez várias digressões pelo Brasil e Europa, enriquecendo e falindo várias vezes.
A companhia Lucinda-Christiano, uma parceria entre Lucinda Simões e o actor português Christiano de Souza, actuou no Teatro Lucinda no ano de 1900, seguindo depois para Portugal. E em 1905 voltou ao Brasil, actuando no Pará e em todo o Norte e em seguida no Rio, S. Paulo e Santos. E actuam igualmente em Buenos Aires, na Argentina.
Lucinda Simões reapareceu em Santos em "Zázá"; voltou ao Norte e em 1907 associou-se à companhia Dias Braga, no Recreio, estreando em "Sherlock Holmes". Percorreu ainda S. Paulo e Minas Gerais.
Em 1908 fez parte da companhia Da Rosa no Teatro Municipal e trabalhou na companhia de Christiano de Souza no S. Pedro.
E em 1922/1923 regressa ao Brasil na companhia da filha Lucinda Simões e do (futuro) genro, o conhecido actor Érico Braga.
Theatro Lucinda
O Theatro Lucinda, localizado na Rua do Espírito Santo, 24, foi inaugurado em 3 de julho de 1880, em homenagem a Lucinda Simões, actriz e esposa de Furtado Coelho, tendo uma duração muita curta pois em 8 de abril de 1882 muda de mãos e passa a chamar-se Theatro Novidades.
Mas em 4 de julho de 1884 volta a adoptar a sua primeira denominação – Theatro Lucinda – quando o próprio Furtado Coelho, proprietário do imóvel, volta a assumir a direcção da casa de espectáculos.
Posteriormente, a partir de 1887, sucessivas companhias detiveram a responsabilidade dos destinos do Theatro Lucinda. Foram elas: Cia de Burletas e Revistas (do empresário Souza Bastos), em 1887; Cia Francesa de Operetas, em julho de 1889; o empresário José Fernandes de Carvalho, em 1894; a Empresa Colás (Silva Pinto), em 1902 e, por último, D. Pedro de Almeida Godinho, em 1905.
Variados eram os géneros de espectáculos apresentados no teatro: comédias, dramas, zarzuelas, burletas, operetas-cómicas e revistas.
O Theatro Lucinda teve suas actividades encerradas em 29 de janeiro de 1909. Foi vendido em hasta pública para fins mais lucrativos, vindo a ser arrendado à firma Hime&Liz, que possuía no prédio contíguo uma fábrica de ferros de engomar.
Fontes/Mais informações: wikipedia (Furtado Coelho Eugénia Câmara) / Dossiê Lucinda Simões / Mulheres Ilustres - Fabulásticas (1) (2) / História do Teatro / SELITEN (Espanha) / CTAC (Teatros do Centro Histórico) (1)(2) / Blog do Victorino / Revista Estação / Blog de Bernardo Schmidt / Madrid Cómico
Revista Estação (1897) |
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