Seguindo a “tradição” italiana de reabilitação de figuras históricas, os franquistas adoptaram a rainha Isabel, a católica, bem como outros mulheres famosas na história de Espanha, como modelos femininos a seguir. Entre esses nomes incluíram-se os nomes de Inês de Castro e da Rainha Santa Isabel (Isabel de Aragón), que deram origem a dois filmes com co-produção luso-espanhola.
"Inês de Castro" de Leitão de Barros e García
Viñolas (1944)
Em “Inés de Castro” aparece como consultor Luís Dias Amado,
que iniciara os seus trabalhos em Espanha com “Raza” (de 1942), um filme com
argumento de Franco realizado por José Luís Saenz de Heredia.
Aníbal Contreiras é apenas creditado como argumentista em
“Rainha Santa”, contudo o seu papel foi mais interventivo, sendo-lhe atribuído
o papel de co-produtor do filme. Luís Reis Torgal considera que Contreiras foi
um importante colaborador da Espanha “nacionalista”, pelo que que se pode dizer
que o filme “Rainha Santa” se integrava bem, pela sua temática na linha do
“Bloco ibérico”.
García Viñolas, chefe do Departamento de Cinematografia do
Governo Espanhol, é, por vezes, creditado como co-realizador, e o consultor
literário da versão espanhola foi o poeta Manuel Machado que, assim, se colocou
ao serviço do novo regime.
Ver os "portugueses"
Uma tarde, pouco depois da estreia de “Inês de Castro” em
Madrid, alguém surpreendeu um grupo de estrangeiros no “hall” do Palace Hotel,
a discutir onde deveriam ir passar essa noite. As opiniões dividiam-se e uma
senhora francesa apresentou, a certa altura, uma sugestão, que reuniu todos os
votos: Vamos ver, hoje, os “portugueses”!
“Ver os portugueses”, equivalia, pura e simplesmente, a ver
“Inês de Castro”. Porque já então os portugueses, mercê da própria
distribuição, se haviam, no consenso do público e da crítica, avantajado aos
restantes intérpretes. “Inês de Castro”, grande cartaz em Madrid, eram eles.
O filme “Rainha Santa” foi a primeira produção das Produções
Aníbal Contreiras, que foi também autor do argumento e responsável pela versão
portuguesa. Como era costume nas co-produções com Espanha, o filme contava no
elenco com artistas de vários países.
De Portugal entravam: António Vilar no papel do Rei D.
Dinis; Virgílio Teixeira no papel de D. Afonso Sanches; Barreto Poeira no papel
de escudeiro do rei e ainda Julieta Castelo como Aia da rainha. No lado dos
espanhóis surgia a bela Maruchi Fresno; Luis Peña; Fernando Rey; José Nieto no
papel de Vasco Peres e a actriz Mery Martin. Ao todo eram mais de 20 actores,
entre milhares de figurantes. O filme mostrou ser uma autentica super-produção
para a época.
O filme ganharia no país vizinho, o prémio de melhor
realizador, atribuído pelo Círculo de Escritores Cinematográficos, e ainda o
terceiro prémio de melhor filme atribuído pelo Sindicato Nacional del
Espectáculo.
Após o término deste filme, e devido ao seu sucesso
comercial em Espanha, António Vilar radica-se nesse país onde passa a ser
contratado para protagonizar vários filmes espanhóis. Dava-se assim início a
uma grande carreira internacional. Aliás, o mesmo seria feito por vários outros
artistas. Virgílio Teixeira; Teresa Casal; Isabel de Castro; Carlos Otero e
Maria Dulce.
O mercado espanhol, muito mais amplo que o nosso dava assim
uma projecção que eles nunca obteriam no nosso país.
Fontes/Mais informações: Blogue pessoal de Paulo Borges /
Filmes portugueses / José Maria Folgar de la Calle ("Sobre Inés de Castro
e Reina Santa, películas Hispanoportuguesas de los anos 40")
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