sexta-feira, 15 de junho de 2012
"Os Sermões - a história de Antônio Vieira" de Júlio Bressane (1989)
Júlio Bressane, um cineasta brasileiro mais apreciado pela crítica do que pelo público, estreou em 1989 o seu 20º filme, "Os Sermões - a história de Antônio Vieira".
Só que desta vez, após sua apresentação em Brasília (onde obteve dois importantes prémios, o de melhor realizador e o de melhor actor), seu filme atingirá um público fantástico: de 3 a 5 milhões de espectadores.
Obviamente não no cinema - onde estes números só são atingidos por filmes mais comerciais (como os Trapalhões e Xuxa), mas na televisão (na rede de emissoras da TV-E - TV Educativa).
Tratando-se de um filme de Bressane, naturalmente que não é uma narrativa convencional. Rodado durante apenas 13 dias entre Rio e Salvador, Bressane filmou "Os Sermões" do padre António Vieira (1608-1697) escritos nos seus três últimos anos de vida.
A inventividade de Bressane vai ao ponto de raciocinar que se Vieira "botou a língua portuguesa em sintonia com o mundo", ele colocará o filme sobre Vieira em sintonia com o cinema brasileiro e mundial. Assim, 18 trechos de obras-primas como "Citizen Kane" e "Joana D'Arc" são trazidos para o universo do padre, e os lábios em close de Orson Welles (1915-1985) murmuram "Vieira" e não mais "rosebud" na cena de abertura de "Citizen Kane" (1940).
O "estalo de Vieira" é representado por uma cena de "o homem da cabeça de borracha", de Georges Meliés (1861-1938) e Vieira criança é representado pelo filho de Othon Bastos.
Sinopse
Narrativa que mistura o figurativo e o histórico sobre a vida do padre jesuíta António Vieira, que nasceu em Lisboa em 1608 e foi assassinado na Capitania Hereditária de Salvador, em 1697. O cineasta brasileiro faz aqui uma “transcriação visual” do texto de Vieira.
Curiosidades
Prémios de Melhor Realização (Júlio Bressane) e Melhor Actor (Othon Bastos) no XXII Festival de Brasília do Cinema Brasileiro(1989)
O enredo é sobre os famosos sermões do Padre António Vieira, os quais não são apresentados directamente através de uma linguagem convencional, típica dos filmes biográficos, mas num estudo experimental editado com diversas cenas de clássicos do cinema universal dos anos 20 e 30.
O filme foi idealizado durante doze anos, realizado em treze dias e estreou na televisão antes de entrar no circuito comercial.
Depoimento de Othon Bastos sobre a participação do seu filho Pedro como o jovem Vieira
"No dia [da rodagem] o Pedro chegou lá e fez numa boa. O Julinho [Júlio Bressane] ficou abismado, ficou apaixonado e na dublagem também. (...)
O António Abujamra [actor, que não sabia que Pedro era filho de Othon] que estava sentado vendo e perguntou para o Julinho se o Pedro tinha feito de primeira." [Estupefacto, Abujamra disse] 'O outro ator [Othon Bastos] levou horas fazendo aquilo, e esse menino chegou e fez de primeira? '. 'Fez de primeira'. 'Mas esse menino é filho de quem ?'. 'Do Othon Bastos'.
E o Abujamra falou: 'Eu tenho que aturar o pai, agora eu vou ter que aturar o filho também' (risos)"
Fontes/Mais informações: Aramis Milarch / Meu cinema brasileiro / o cinema de Othon Bastos / Literatura no cinema / Ton pelage / Fotos de Renato Menezes
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