Nos primeiros anos do século XVIII, Bartolomeu Lourenço de Gusmão - um sacerdote nascido no Brasil, que era então território português - viajou para Lisboa e dedicou-se à concepção de um navio voador a que ele chamou de Passarola.
Partindo deste facto histórico, o romancista paquistanês, mas naturalizado australiano, Azhar Abidi mistura detalhe histórico com a
especulação e o sonho, construindo um romance envolvente e original
sobre o confronto entre fé e desejo, razão e desilusão, autoridade e liberdade, que foi nomeado para o prémio de Literatura de Melbourne de 2006.
"O Voo da Passarola" (no seu original "Passrola Rising") é baseado
na história real de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, mas apesar de ambos
os personagens principais (Bartolomeu e o seu irmão Alexandre) serem
verdadeiros, as aventuras descritas no livro são fictícias.
Bartolomeu e Alexandre utilizam a
Passarola para escapar da perseguição da Inquisição, viajando pela Europa,
onde encontram alguns dos personagens mais coloridos do Iluminismo
europeu, incluindo Voltaire, Rousseau, Lineu e o irascível Rei Estanislau da Polónia, até culminarem numa expedição militar à Índia, para defender as possessões francesas de Pondicherrey, e posteriormente numa perigosa missão científica ao Pólo Norte.
Como tudo começou ?
Azhar Abidi já queria escrever um romance sobre um navio voador muito antes de conhecer a história de Bartolomeu
Lourenço. O autor tinha um esboço do romance, mas
precisava de uma personagem e de uma voz. Mas quando tomou conhecimento de Bartolomeu, teve a sensação de ter encontrado esse personagem.
E através do irmão, Alexandre, criou
a voz de que necessitava. O registo histórico serviu de base ao romance, mas a história vai mais "longe". No final do livro Bartolomeu vai estudar a gravidade do Ártico
gelado.
A passarola de Bartolomeu de Gusmão faz parte do imaginário
nacional. O primeiro homem a voar teria sido português. O seu dirigível seria
aquela barca elevada por ar quente, uma espécie de cesto onde cabiam homens e
instrumentos.
No entanto, quem perceba um mínimo de física reconhece, imediatamente, que aquela construção não se poderia elevar nos ares.
No entanto, quem perceba um mínimo de física reconhece, imediatamente, que aquela construção não se poderia elevar nos ares.
Bartolomeu de Gusmão
Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em Dezembro de 1685 em
Santos, no Brasil, que era então território português. Estudou em Belém, na
Baía, ingressou na Companhia de Jesus e deslocou-se definitivamente para a
capital em 1708. Ainda no Brasil, destacou-se como inventor.
Em 1709 teria já a ideia de construir uma máquina voadora, pelo que dirigiu ao
rei D. João V uma petição em que requeria para si uma patente sobre os
proveitos de um «instrumento que inventou para andar pelo ar». Nesse documento,
enumera as vantagens do desenvolvimento futuro do seu invento, tanto para as
comunicações como para a guerra e o comércio. Sabe-se que o rei despachou
favoravelmente a petição. (...)
Há quem afirme que o abandono das experiências foi motivado
pela tremenda chacota que os ignorantes e invejosos fizeram do seu invento. (...) Essas
fantasias, propagadas pela chacota popular, desprestigiam o inventor português.
A honra de voar pela primeira vez num balão haveria de caber a dois franceses,
Pilâtre de Rozier e o marquês de Arlandes, que se elevaram nos ares em 1783, 74
anos depois das experiências de Gusmão. Mas a honra de construir pela primeira
vez um balão capaz de subir por meio de ar quente cabe - segundo o que se sabe
ao certo - ao inventor português.
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