quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mircea Eliade e Portugal (1941-1945)


Em 1941 Mircea Eliade - um dos autores mais consagrados no que diz respeito à interpretação e ao estudo dos símbolos - foi nomeado secretário de imprensa na capital portuguesa.

Interessou-se pelos clássicos, como Sá de Miranda, Camões e Eça de Queiroz, e empenhou-se em estabelecer elos mais fortes entre os latinos do ocidente e do oriente, impulsionando traduções, conferências e concertos.

Deixou diversas obras ligadas ao nosso país, algumas de forma directa, e uma outra mais curiosa.


Emergiu, há poucos anos, um diário que Eliade terá mantido sobre os seus anos passados em Portugal. Editado em Barcelona, com o título “Diário Português”, este documento importante manteve-se muito tempo sem versão em português.

Enquanto esteve em Portugal, o escritor romeno foi um observador muitas vezes crítico, mas jamais mal-educado ou hostil, de Portugal e dos seus habitantes.

"Lisboa conquistou-me desde o primeiro dia (…). No último ano da minha estadia em Calcutta tinha começado a aprender o português com método e paixão".

Mircea Eliade entrou em contacto com jornalistas portugueses e com o director do então Ministério de Informação e Propaganda António Ferro (1895-1956). Ao mesmo tempo iniciou o estudo da obra de Camões.

Tinha o propósito de escrever um livro sobre Camões e a Índia portuguesa. Este livro, porém, como muitos outros, não passou dum projecto inacabado.


"Salazar e a Revolução Portuguesa" tinha por objectivo inspirar o general Ionescu a seguir o exemplo do português de criar uma ditadura não totalitária. Quem não parece ter gostado da brincadeira, contudo, foi Salazar. A obra só recentemente foi editada em português.

"Salazar, que tinha cometido a 'gaffe' de ordenar luto pela morte de Hitler e tinha sido injuriado na imprensa anglo-americana, corrigiu o erro rompendo as relações com a Alemanha, fechando a Legação e congelando os fundos alemães", anotou Eliade no seu diário, no dia 10 de Maio de 1945.

O escritor romeno conheceu pessoalmente Salazar, que retrata com simpatia ("É menos rígido visto de perto"), mas segundo Corneliu Popa (tradutor da sua obra para português), "não era propriamente fascista".

"É inegável que Eliade tinha simpatias de direita, mas não era um militante surdo e cego. Ele defendia um Estado autoritário, mas não totalitário", disse.


"Os Romenos: Latinos do Oriente" era uma síntese histórica, cultural e espiritual do seu país, tendo avançado a hipótese de haver uma ligação grande entre os actuais habitantes da Roménia e de Portugal, uma vez que teriam sido soldados da Península Ibérica os primeiros latinos a colonizar a Roménia.

Fontes: Filipe d’Avillez, Revista “Os Meus Livros” (adaptado) / Instituto Camões / Nonas Nonas / wikipedia

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