quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eça e Portugal na visão do brasileiro Dário Castro Alves


Dário Castro Alves (1927-2010), antigo embaixador do Brasil, escreveu "Era Lisboa e Chovia" (1985), "Era Tormes e Amanhecia" (1992) (dicionário gastronómico baseado na obra de Eça de Queiroz), "Era Porto e Entardecia" (1994) (dicionário de enologia da obra do mesmo autor), e ainda "Luso-Brasilidades nos 500 anos".

Dário Moreira de Castro Alves, reuniu no livro "O Vinho do Porto na Obra de Eça de Queiroz”, tudo o que o escritor diz sobre o vinho fino do Douro.


Como surgiu a ideia de abordar a obra de Eça ?

Notava eu que muitos e muitos brasileiros que passavam por Lisboa, onde eu servia como Embaixador, sabendo que eu tinha interesses em Eça de Queiroz me vinham perguntar onde se deram tais e tais cenas, presentes nos grandes romances de Eça – "Os Maias", "O Primo Basílio", "A tragédia da Rua das Flores", "A Capital" e outros.

Perguntavam tudo, minuciosamente. Dinah [sua esposa, a famosa escritora Dinah Silveira de Queiroz] então me assinalou que seria um tema interessante, considerando que Eça era uma personalidade viva na sensibilidade brasileira.

Eça era Lisboa, e ninguém a decantou mais fortemente como escritor do que ele. Além do mais havia o lado propriamente brasileiro. O Brasil estava atrás de toda a vida lisboeta. Raspando-se um pouco as velhas paredes de Lisboa, se dá no Brasil. Isso é um facto.


"Era Lisboa e chovia"

O primeiro foi "Era Lisboa e chovia", um roteiro cultural, histórico, literário e sentimental construído a partir da obra de Eça de Queiroz. Modéstia à parte, trata-se de um livro não superado quanto ao tema.

A longínqua explicação para o título vem de Alfredo Valadão, eciano fanático, que adorava explicar o sentido profundo, profundíssimo, de porque Eça escolhera falar de Lisboa.

E naquele trecho de A capital, em que o grande autor registra a fase altamente irônica de que "era Lisboa e chovia", queria dizer o seguinte: Fradique vinha de Paris, granfinérrima cidade das luzes, e chegava à suja estação de Santa Apolônia, em Lisboa, em lúgubre madrugada.

Surge então a frase que ficou famosa, em que dizia "além de ser Lisboa, ainda chovia". Era, pois, o fim...


"Era Porto e entardecia" e "Era Tormes e amanhecia"

Em "Era Porto e entardecia" são listadas todas as bebidas mencionadas por Eça, do absinto à zurrapa.

E por fim "Era Tormes e amanhecia" é um completo dicionário gastronômico cultural, com o nascimento literário de Eça de Queiroz na região do D´Ouro.


"Luso-Brasilidades nos 500 anos"

Com uma perspectiva universalista, Castro Alves levou por diante uma importante valorização do espaço lusófono, partindo de uma dimensão histórica para reconhecer nesse legado uma dimensão actual: "Brasil - Portugal. 1500-2000" e, no mesmo ano, "Depois das Caravelas. As Relações entre Portugal e o Brasil. 1808-2000" constituem exemplo do estudo em que baseava uma convicção empenhada.


Depoimento de Jorge Amado

Dario sabe Eça de cor e salteado e ninguém sabe mais em Lisboa do que esse ex-embaixador que fez da diplomacia uma escola de convivência, de verdadeiro intercâmbio cultural: letras e artes, vinhos e comidas. O que deveriam fazer todos os embaixadores e em geral não fazem.

Fontes: Blog de Dário Alves / Triplov / Da praia da Granja / Culturas e afectos Lusófonos / Embaixada de Portugal no Brasil

Sem comentários: