quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"Meu Fado" de Fafá de Belém (1992)

Em 1990 foi feita uma pesquisa, em Portugal, sobre quem o povo português gostaria que gravasse um disco de fados e canções portuguesas. O nome Fafa de Belém foi o escolhido. Aí nasceu este "Meu Fado".

O produtor, Mário Martins, era o produtor preferido de Amália Rodrigues e junto com Tozé Brito e Pedro Oliveira, começamos a trabalhar num repertório abrangente. Por um ano trocamos cartas, cassestes, fax e horas de telefonemas infindáveis e maravilhosos ! Não havia e-mails a esta altura ...

De cada canção vinham várias leituras e um resumo da época e da situação em que ela foi gravada. (...)


O repertório era praticamente o mesmo, com excepção de "Canção Grata",que abre o cd. É uma letra sobre um poema de Florbela Espanca e havia uma outra "Amar", igualmente deslumbrante e aí as opiniões dividiam-se. Ganhou "Canção Grata", para minha alegria...

Uma semana de ensaios e, à maneira do Fado, entramos em estudio para gravarmos directo, sem canais a mais, a guitarra e o tempo a partir da respiração da cantora.

No fado, não há emendas nem "protools", nem vozes a serem refeitas. É a voz que dá o tempo e o sentimento. Os instrumentos vestem-na.

Um grande desafio para quem ama o Fado mas sabe que “fadista nasce-se, é em Portugal!”.


Um trabalho de mestre de Mário Martins, grande produtor; e Mestre António Chainho dominando sua guitarra portuguesa como se uma mulher fosse a cobrir-lhe de carinhos!!!

A partir de "Canção Grata" seguimos pelas águas deste Tejo e da democracia com Canoas do Tejo, emblemática canção imortalizada por Carlos do Carmo que canta a "embarcação" chamada Revolução dos Cravos, que devolveu ao povo português a liberdade e o Estado Democrático.

Seguem-se "Nem às Paredes Confesso", canção tradicional e muito popular aqui e em Portugal na voz de Amalia, Francisco José e tantos outros fadistas.


Em "Sombras da Madrugada" e "Sempre que Lisboa Canta" a alegria e a brejeirice tomam conta e cantam um lado menos conhecido, para nós brasileiros, desta canção portuguesa.

Mergulhamos, então no universo denso do Fado em "Procuro e Não te Encontro", grande canção de Nobrega e Souza e António José, e "Confesso", grande clássico de Frederico Valério e Galhardo, imortalizado por Amália.

Vamos, então para o "Fado das Queixas", Fado Malandro, o fado das ruas de Alfama e Mouraria, alegre e brincalhão!


Passeamos pelo repertório de Francisco José com "Olhos Castanhos" e "Só Nós Dois", de grande força popular para mesgulharmos em "Só à Noitinha", de novo Frederico Valério escrevendo para sua musa maior – Amália.

Achamos apropriado ter no repertório a canção "Memórias" que, embora composta no Brasil sem intenção de Fado, foi gravada por mais de 4 fadistas como se um Fado fosse. Como é um grande sucesso meu no Brasil e em Portugal, achamos por bem coloca-la.

Finalizamos com "Tudo Isto é Fado", outro clássico, que resume e traduz este sentimento que não se explica, esta saudade do que não se sabe bem, esta angústia que por vezes nos toma a alma e que está nas ruas,nos becos,nos infortunios, no que não se diz, nas meias mentiras, nos amores mal resolvidos, na esperança do retorno, em nossa almas fadadas àos amores que não se tem certeza!

Fonte: Fafá de Belém



Motivo do relançamento

"Estou fazendo 35 anos de carreira e esse disco é muito importante para mim. É o único disco de fado feito em Portugal por uma cantora brasileira. Foi feito a pedido do mercado português e produzido pelo produtor da Amália Rodrigues.

Quando recebi esse convite, fiz um ano de pesquisa, e naquela época não havia internet. Era fita cassete pra cá e pra lá (Risos). Foram cartas, faxes, trabalhando num repertório que fosse representativo. A ideia era revitalizar o fado, que estava fechado num gueto antigo e não chegava ao público mais jovem.

Fui escolhida entre três cantoras brasileiras e torci muito para que isso acontecesse. Em uma semana, conseguimos o disco de ouro.

No Brasil, vendeu perto de 500 mil cópias. Depois de um ano e pouco, a Som Livre tirou do mercado, e desde então me pedem que relance. A Sony, que tem o fonograma, topou e negociamos por dois anos. Em janeiro, chegou a autorização."

Fonte: Embaixada Portugal Brasil

Entrevista: RTP "Olha Que Dois" (1992)

3 comentários:

Blogger disse...

Nasi gravou em 2008 uma versão do tema "Laços" dos Toranja para o filme brasileiro “Não por acaso”.

Blogger disse...

"barco negro" de Ney Matogrosso

http://www.youtube.com/watch?v=UUHOjn3DOfQ

Anónimo disse...

Temas de Nóbrega e Sousa em Espanha

http://datos.bne.es/persona/XX1000562.html