quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Crime do Padre Amaro" no México dos nossos dias (2002)



Depois de três longas-metragens, a adaptação de um clássico oitocentista lançou o realizador mexicano Carlos Carrera nos EUA (nomeação para melhor filme em língua estrangeira). Tudo por causa de Eça. Tudo por causa de "O Crime do Padre Amaro".


A escolha de Eça de Queirós

Antes de "O Crime do Padre Amaro" já tinha lido "A Relíquia". Gosto muito da forma como Eça aponta críticas à sociedade sua contemporânea e da sua construção de personagens, neste caso, personagens vis, cheias de ambições. O encontro com o livro foi casual e como tenho forte formação católica, interessei-me particularmente por fazer este filme.

Sabia que o filme poderia ser considerado como uma espécie de falta de respeito, porque a cultura é algo vivo. Mas o filme não é o livro. Por outro lado, a minha obra provocou uma maior curiosidade sobre os livros de Eça. Sobretudo no México, onde foram sabotadas três edições de "O Crime do Padre Amaro".


Adaptação à actualidade

Eu e Vicente Leñero, um escritor católico praticante, famoso no México, começámos a trabalhar no guião e decidimos fazer as mudanças necessárias para que fosse possível adaptar o romance à actualidade. Apesar das transformações, tentámos sempre respeitar a essência da novela, as suas personagens, as situações e a abordagem da hipocrisia.

Foi essa abordagem da hipocrisia e do cinismo que mais contribuíram para a controvérsia gerada pela Igreja. As manifestações, entre outras formas de contestação, acabaram por ser excelentes veículos de publicidade...


Reacções em Portugal

Luís Francisco Rebello, presidente da sociedade portuguesa de autores, pediu ao Governo que recorresse aos tribunais para proibir a exibição do filme em Portugal.

Mesmo entre especialistas na obra de Eça de Queirós não há consenso. Carlos Reis, ainda que admitindo que provavelmente Eça ficaria vaidoso com o facto de saber que um livro seu deu origem a um filme no México, pensa que Eça ficaria insatisfeito do ponto de vista artístico. Já Isabel Pires de Lima pensa que Eça gostaria do filme pois este "respeita o que é essencial no romance que resiste a ser transposto de uma cidade de província de Portugal do século XIX para uma aldeia nos confins do México em pleno século XXI." (Leme, 2003:19).

Fontes: Maria José Oliveira (Público), Paula Cruz

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