segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Jorge Amado e os ancestrais japoneses (1980)
O prazer de ouvir Luís Forjaz Trigueiros (escritor português) contar histórias, casos, só comparável ao de ler seus contos portugueses. (...)
No tombadilho do navio [durante excursão pelas ilhas gregas] discutiam os dois casais [Forjaz Trigueiros, David Mourão-Ferreira e respectivas esposas], não preciso dizer que acaloradamente, de outra maneira não discutem os portugueses, discutiam poesia, assunto explosivo, sob a vista de um grupo de japoneses postados atentos na amurada.
No auge do debate, um dos japoneses aproxima-se dos polemistas e a eles se dirige:
- Estão falando português, não é verdade ? De onde são ?
- De Portugal, ora pois, somos portugueses – contesta David Mourão.
O rosto nipónico se abre em sorriso brasileiro:
- São portugueses... – anuncia ao grupo na expectativa: - .. são nossos ancestrais.
Nossos ancestrais. Pensando nas epopeias lusas no oriente, coitos monumentais, ignotas descendências, Luís Forjaz deseja saber se ‘por acaso eles têm sangue português nas veias asiáticas, um navegador de passagem na rota das descobertas, quem sabe ?’
- Sangue português ? Nós ? Não. Somos brasileiros nascidos em São Paulo, os portugueses são antepassados dos brasileiros – ensina: - São nossos bisavós.
De todos os brasileiros, com certeza. Filha de pai e mãe italianos, Zélia sente-se em casa na cidade de Lisboa, é estrangeira em Florença, onde nasceu seu pai, no Vêneto, terra de sua mãe.
Fonte: Jorge Amado, “Navegação de Cabotagem - Apontamentos para um livro de Memórias que jamais escreverei"
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