segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Partituras de Fado do início do Século XX


A editora espanhola "Berrocal Libros Antiguos" disponibilizou, em 2016, um catálogo ilustrado de música popular dos séculos XIX e XX composto por 118 partituras. O repertório é muito variado e está organizado da seguinte forma: Hinos e marchas militares (12), Habaneras (3), Canção espanhola (30), Tangos (9), Fox-trot (10), Fados (9), Zortzicos (2), Cuplés (2), Zarzuela (8), Opereta (6), Boleros (1), Clássico (3), Valsas (8), Vários (15).

A designação “fado” poderia ser genericamente aplicada pelos compositores para designar alguns números cantados em Revistas, coincidindo, por vezes, com o termo “canção”.  Geralmente, as capas incluíam o título, o nome do compositor, uma designação da tipologia (“fado-marcha”, “fado-slow”, “fado-fox” entre outras), e uma frase apelativa ao consumidor, referindo o contexto no qual foi popularizada a canção (teatro de revista, opereta, rádio, cinema).

As sub-designações que figuravam paralelamente nas edições de fado remetem para tipologias de dança, sendo de notar o hibridismo de estilos e a emulação da música de dança anglo-saxónica e latino-americana.

 1 - "Quem canta seu mal espanta" (1920). Música e letra. 

Música de Prudencio Muñoz (1877-1925), compositor espanhol, natural de Málaga, que foi autor de diversas obras para Teatro musical. Edição da partitura de Manuel Villar (8 pp.).

Existe uma gravação deste tema pela Seleccion de Profesores da Oquestra de Madrid.



Link: audio (instrumental / pianola)

 2 - "Lulu - Fado" - "Le vrai fado portugais”.

Da autoria do Compositor Brasileiro Nicolino Milano (1876-1962), que esteve imigrado em Portugal no início do Século XX. Editions Edouard Salabert, 1920 (8 pp.)



3 - "Um fado triste" para piano

Composição portuguesa da autoria de J. Duarte da Silva (dedicado “Ao meu prezado amigo Manoel Simões Vaz). Editores Sassetti & C.ª (8 pp.)


4 - "Fado 31"

Famoso fado de Alves Coelho. É referido na partitura que se trata de uma criação da gentil artista Purita Mignon. Letra espanhola de Biorito e Ribé, Música de Alves Coelho . Ed. Unión Musical Española (4 pp.)


"O 31" foi um caso de enorme sucesso, na medida em que se manteve em cena durante cerca de uma década (de 1913 a 1922), em vários teatros de Portugal e do Brasil, actualizando-se sucessivamente quer no que diz respeito a elencos e vedetas, quer no que concerne aos próprios textos.



 À semelhança de outras canções editadas, do "Fado do 31" foi realizada uma versão em castelhano com vista a exportação

Publicitadas exclusivamente pela capa, a edição portuguesa apresenta a fotografia da actriz Maria Vitória, que celebrizou esse fado no teatro e a edição espanhola conta com a fotografia de uma outra intérprete (Purita Mignon, com letra de Biorito e Ribé), adaptando-se desta forma ao sistema de vedetas desse país.


O "Fado Maria Victória" de Alves Coelho foi igualmente adaptado por Biorito e Ribé.



5 - "Fado Liró". Canção popular portuguesa.

Letra de Nan de Allariz (Alfredo Fernández) (1875-1927), Adapt. De L. Rais . Edição de Faustino Fuentes, 1920 (8 pp.)

Edição francesa "Edouard Salabert"

O "Fado Liró" é de autoria do compositor e músico brasileiro Nicolino Milano (na partitura é referido que se trata do 3º fado do autor). Foi composta em 1905, e no ano seguinte, Nicolino viajou para Portugal, onde participou da montagem da revista teatral ABC, com a sua música, que passou a integrar a letra de Acácio de Paiva.


Em 1909, essa companhia de teatro vai actuar no Brasil e aí começa a se destacar, sendo gravada na voz da dupla "Os Geraldos"(1909) e Mário Pinheiro (1910), entre outros.


6 - "Fí - Fí" . Fado Greco - lusitano.

Opereta bufa em três actos. Adaptação de Miguel Mihura e González del Toro da Opereta de Henri Christiné, com música de Celestino Roig (12 pp.)

"Fado Greco - lusitano" é uma das primeiras composições desta adaptação espanhola. 


"Phi Phi" é uma famosa opereta francesa com música de Henri Christiné e libreto de Albert Willemetz e Fabien Sollar.


7 - "Ay-ay-ay"

Célebre canção crioula cantada pelo notável tenor Tito Schipa (Raffaele Attilio Amedeo Schipa, Lecce, 1888 - Nova York, 1965) que foi um tenor lírico italiano de renome internacional) (4 pp.)

Será das partituras com menor ligação ao Fado pois inclusive foi gravada noutros estilos musicais.


8 - "Fado Apache".

Criação de Raquel Meller (de seu nome Francisca Marqués López, também conhecida por Argentinita) (1888-1962) que foi durante os anos 20 e 30 do Século XX a artista espanhola de maior êxito internacional.

"O Fado Apache" tinha letra de Enderiz e música de Monreal e Martra. Ed. Ildefonso Alier (8 pp.)

Foi igualmente interpretado por Paquita Garzon 
 

9 - "Caixa da guitarra". Fado. 

Criação e grande êxito de Mary Focela (Mari-Focela) com letra de Leopoldo G. Blat e Copérnico Olver e música de Pedro Palau (8 pp.).

Estreou em "El relicario", um dos cuplés mais famosos de todos os tempos.

 


Fontes/Mais informações: Berrocal / "A Edição de Música Impressa enquanto Agente de Mediatização do Fado: O Caso do Fado do 31" de Gonçalo Antunes de Oliveira, João Silva e Leonor Losa em Revista Etno-Folk / Marcelo Bonavides (sobre Nicolino Milano)

1 comentário:

Maria disse...

Palavras apaixonadas muito bem descritas com esse maravilhoso desconhecido, é uma criação do esplendor de sua alma.
Bom fim de semana , desejo que você esteja bem e sempre muito feliz.
Muitos abraços com carinho