Guilhermina Augusta Xavier de Medin Suggia (1885-1950) era filha de Augusto Suggia, violoncelista, formado no Real Conservatório de Lisboa e músico na orquestra do Real Teatro de S. Carlos, que foi convidado a dar aulas nas escolas da Santa Casa da Misericórdia de Matosinhos.
Aos 5 anos pediu ao pai que a ensinasse a tocar violoncelo. Aos 7 anos fez a sua estreia, na Assembleia de Matosinhos, acompanhada ao piano pela irmã Virgínia.
Quando tinha 13 anos, conheceu Pablo Casals, então com 21 anos, quando o jovem músico catalão fez parte de um sexteto que abrilhantou as noites do Casino de Espinho no Verão de 1898.
Pablo Casals sugeriu a Augusto Suggia dar lições a Guilhermina uma vez por semana durante a sua permanência em Espinho. E assim foi, todas as semanas Augusto e Guilhermina rumavam no comboio em direcção a Espinho.
Guilhermina Suggia parte para Leipzig em 1901 com uma bolsa de estudo concedida pela Rainha D. Amélia para estudar no Conservatório de Leipzig – conhecido pela exigência de ensino e pela exigência na selecção de alunos – com o professor Julius Klengel.
Em Dezembro de 1902 – um ano depois da chegada a Leipzig - Guilhermina Suggia, com 17 anos tornou-se a primeira mulher a tocar, como solista, na Gewandhaus, e o solista mais novo. Tocou o Concerto para violoncelo e Orquestra de Volkmann.
No final da actuação, o público, de pé, aplaudiu e gritou veementemente “Bis”. A insistência foi tal que Arthur Nikisch quebrou as normas rígidas e mandou repetir o concerto na íntegra.
Tinham sido abertas as portas de todos os grandes centros musicais do mundo e Guilhermina Suggia não mais deixaria de ser solicitada a tocar.
Em 1906 reencontrou-se com Pablo Casals, e decidem começar uma vida em comunhão. Vivem em Paris, na Villa Molitor e convivem com os maiores artistas do seu tempo. Compositores dedicam-lhes obras. As críticas são muito favoráveis ao que era considerado o maior par de violoncelistas do momento.
Muitas vezes essas críticas punham Suggia em primeiro lugar e isso era menos agradável para Casals, habituado a ser considerado o maior violoncelista. A vida entre os dois começou a ser um pouco atormentada e no final de 1913, o casal separa-se.
No início de 1914, Suggia parte para Londres e aí recomeça uma vida nova. Rapidamente é notada por toda a gente do meio musical e convive com os maiores intelectuais do tempo. Toca sempre, estuda incessantemente sem mostrar sinais de cansaço.
Convive com os intelectuais do The Bloomsbury Group. Dora Carrington é uma apaixonada pela arte de Suggia. Virgínia Woolf fala de Suggia no seu Diário – curiosamente a edição portuguesa corta essa passagem.
Augustus John pinta Suggia. Durante o tempo dedicado a essa pintura, Suggia posava sempre tocando Bach. Das mãos deste pintor saiu o famoso quadro “Madame Suggia”, que faz parte do acervo da Tate Gallery e o quadro “Guilhermina Suggia”, no Museu Nacional de Cardiff.
Em Londres, Suggia conhece o magnata Sir Eduard Hudson, que lhe ofereceu o violoncelo Montagnana e comprou o Castelo de Lindesfarne para lhe oferecer. Era um castelo que estava abandonado, restaurou-o e nele fez uma sala, com um estrado, onde Suggia gostava de tocar.
O casamento entre eles chegou a ser anunciado nos jornais ingleses. Mas em 1923, numa viagem que fez ao Porto com a mãe, conheceu aquele que viria a ser o seu marido. De volta a Inglaterra, desfez o seu casamento com o magnata e devolveu-lhe o castelo. Hoje este castelo é monumento Nacional e mantém a mesma sala que havia sido de Suggia, com um violoncelo em sua homenagem.
Fontes/Mais informações: Virgílio Marques (Associação Guilhermina Suggia) / Hemeroteca digital / Tarisio / Instituto Camões / Revista "Arte musical" / RTP (livro de Henri Goudrin) / Cais da memória
A primeira biografia em francês da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950) chegou às livrarias francesas a 05 de março de 2015 com o título "La Suggia - L`Autre Violoncelliste", da autoria de Henri Gourdin.
O escritor francês disse à Lusa que o objetivo é fazer descobrir uma "personalidade injustamente desconhecida" em França, depois de ele próprio a ter descoberto quando escreveu uma biografia do violoncelista Pablo Casals, com quem Suggia viveu sete anos em Paris (de 1906 a 1913).
"Ela foi a primeira mulher a tocar violoncelo ao mais alto nível e a fazer carreira. Não foi fácil porque, na altura, o violoncelo era considerado um instrumento masculino. Ela teve de lutar contra esses preconceitos. Foi o charme da sua personalidade e a sua música que acabaram por convencer o público", explicou o autor.
Henri Gourdin destacou que "o que é impressionante nesta história é que a conquista do violoncelo pela mulher tenha sido feita por uma portuguesa, ainda que, na altura, Portugal fosse um país católico, onde a separação dos sexos era mais restrita do que noutro lado qualquer". "Foi ela, uma portuguesa, que veio dar o exemplo aos franceses, aos ingleses, aos alemães e ao mundo inteiro. É extraordinário", continuou.
A capa do livro - que apresenta Suggia a tocar violoncelo de vestido vermelho e de olhos fechados - parte de um quadro de Augustus John, "o pintor das estrelas, que pintou as grandes personalidades artísticas e políticas da sua época" e que a representou "numa postura de diva", tendo contribuído para a criação de "uma lenda".
A "lenda" perpetuou-se, porque os instrumentos que Suggia tocou ficaram "para sempre conhecidos como o `Stradivarius Suggia e o `Montagnana Suggia`", e porque ela "legou os seus sete violoncelos a alunos e institutos, tendo os dois mais célebres - o `Montagnana` e o `Stradivarius` - sido vendidos para fundar os prémios Suggia, atribuídos anualmente a jovens violoncelistas", e garantir a sua formação.
Entre os distinguidos, contam-se, entre outros, Jacqueline du Pré, Rohan de Saram, Robert Cohen, Steven Isserlis, Raphael Wallfisch e Julian Lloyd Webber.
Fontes: Lusa / RTP
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