quarta-feira, 15 de julho de 2020

Os fados de Nicolino Milano: "Fado Liró" e "Lulu Fado"

 

No início do Século XX, um período marcado pela presença massiva de maestros e compositores portugueses no Rio de Janeiro, o compositor brasileiro Nicolino Milano empreendeu o caminho inverso, conquistando expressivo sucesso comercial em Portugal e mais tarde em França.

Nicolino Milano tornou-se conhecido em Portugal mesmo antes de sua chegada a Portugal. Sousa Bastos, na sua "Carteira do Artista", publicada em Lisboa, em 1898, testemunhava que Nicolino Milano era, na época, um dos mais destacados músicos do Rio de Janeiro.


Nicolino Milano viajou para Lisboa em 1906, actuando como regente do Teatro da Avenida, aquando da representação da revista “A.B.C.”, de Acácio de Paiva e Ernesto Rodrigues. Uma das peças musicais dessa revista tornar-se-ia o grande sucesso popular de Nicolino Milano: o “Fado Liró”.

Em 1909, a companhia do Teatro da Avenida trouxe a “A.B.C.” para o Brasil, estreando no Teatro Apolo do Rio de Janeiro.

"Os Geraldos" na revista "O Malho"

O “Fado Liró”, que "levava a palma ao próprio choro", alcançou também no Brasil considerável sucesso, popularizando-se então, com ritmo de marcha, no carnaval de 1911:

"Guitarra, guitarra geme/que meu peito todo freme/Quando choras pianinho/Não há fado com mais alma/Que o liró, pois leva a palma/Até ao próprio choradinho/As condessas e duquesas/Ao contá-lo pedem meças/Sem receio de perder/Nas areias de Cascais/Tem meu fado encantos tais/Que é da gente endoidecer/Oh! Oh! Oh! Oh!" etc.


O "Fado Liró" foi gravado, entre 1909 e 1913, por Os Geraldos, Mário Pinheiro, Banda Escudero, Almeida Cruz e Moysés Mondadori. E em 1953 foi gravado por Joaquim Pinheiro.
 
E o mais curioso é que em 1912, no ano seguinte ao desse Carnaval em que o fado português de um brasileiro se transformara em marchinha foliona de rua, uma marcha composta pelo português Filipe Duarte para a revista "O país do vinho" – estreada no Teatro Recreio em junho de 1910 e aí reposta em 1911 – transformar-se-ia, abrasileirada, num dos mais constantes sucessos do Carnaval no Brasil a partir daquele ano de 1912: “A Vassourinha”.
 

Nicolino Milano fica na história da música portuguesa e brasileira, sobretudo com "Fado Liró", mas foi com "Lulu-fado" (com o subtítulo "Le Vrai Fado Portugais") - que foi uma criação de L. Duque na sua adaptação para piano ou para piano e canto - que obteve maior reconhecimento internacional, nomeadamente em França e Bélgica e, posteriormente, nos Estados Unidos da América em associação à dança do mesmo nome.

A versão (ou original ?) de "Lulu -Fado" em português, com letra de Guedes d'Oliveira, intitulava-se "Fado Gramacho", tendo sido gravada por Medina de Sousa e coro.



"Lu Lu fado (Le vrai fado portugais)" foi gravada, em 1914, pela Conway's Band (que gravou 169 fonogramas) e pela Prince's Orchestra.

Foi igualmente gravada pela National Promenade Band em 1914 e por Manuel Carvalho (com a International Novelty Orchestra) em 1924.



Maurice Mouvet, norte-americano de ascendência belga, e a esposa Florence Walton terão sido os  criadores do "Lulu-Fado" como estilo de dança como é referido na partitura acima.

Esse estilo de dança foi altamente publicitado, em diversos jornais norte-americanos, sobretudo em 1914, acompanhando assim a tendência de criação de inúmeros estilos de dança no período do Ragtime. Foi inclusive incluido numa série de artigos denominada "How To Do the New Dances".

Uma das críticas que se apontava ao novo estilo "Lulu Fado" é que só existia uma música ("Lulu Fado" de Nicolino Milano) para dançar esse estilo de dança.




Foi igualmente publicada no Jornal The Star a forma de dançar o "Lulu Fado" na série "How to dance the Modern Dances" pelo autor de "Social Dancing of Today"John Murry Anderson.


Melvin M. Franklin, coreógrafo norte-americano de origem alemã, foi o criador do estilo de dança "Lulu Fada" em 1915 (ou em 1914 segundo outras fontes), que seria uma variante do "Lulu Fado", incluído em "Famous Dancers Collection".


Foi igualmente criado o Lulu Foxtrot, em 1917, por Robert T. Almond, que combinava o Foxtrot com o Lulu Fado (que seria "a portuguese one-step /polka), ambos de 1914.


Nicolino Milano, que ficou igualmente famoso por compor outros estilos de música (nomeadamente os Hinos do Pará e de Pernambuco e a marcha do centenário) compôs igualmente o "Fado do Cigarro" mais conhecido por ter uma partitura da autoria de Stuart Carvalhais.


Links: "Fado Liró" por Mário Pinheiro  e Joaquim Ramos  / "Lulu Fado" (instrumental) / Lulu fado (dança) / Lulu Fado (ampico Lexington) / "Lulu fada"

Fontes/Mais informações:  Marcelo Bonavides / Meloteca / Wikipedia / Revista Brasil-Europa / "Diálogos luso-brasileiros no Acervo José Moças da Universidade de Aveiro" de Pedro Aragão/ Dança (1)(2)(3)(4)(5)(6) /  Discografia (EUA)(Brasil)(Rolos de Piano) / "A música popular no romance brasileiro" de José Ramos Tinhorão / Dicionário

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