segunda-feira, 15 de abril de 2019

Ester Leão (1892-1971) - uma portuguesa no Teatro Brasileiro



Ester Leão aceitou em 1931 o convite para participar na temporada portuguesa da peça "Deus lhe Pague" de Joracy Camargo, produzida pela companhia do brasileiro Procópio Ferreira, interpretando o principal papel feminino, Nancy, mulher do Mendigo Filósofo.

Finda a carreira do espectáculo no nosso país, a actriz envolve-se na sua digressão por terras de Vera Cruz, de onde nunca mais voltou. O retumbante sucesso da actriz nos palcos brasileiros e o "abastardamento da vida teatral portuguesa, que a censura fascista e a desorganização empresarial condenavam à mediocridade e ao conservadorismo", foi o que bastou para que ela cedesse aos vários e insistentes apelos para que assumisse a direcção do Teatro do Estudante do Brasil (TEB).


Em dez anos de dedicação ao TEB, Ester Leão, para além de ter tido influência na formação de muitos actores brasileiros, produziu alguns dos melhores espectáculos daquela época, a partir de textos clássicos e modernos.

"Os Romanescos" de Edmond Rostand, "Leonor de Mendonça" de Gonçalves Dias e "O Jesuíta" de José Alencar foram os três primeiros de uma longa série de sucessos. O mais popular foi sem dúvida o que ela encenou para a estreia daquela que viria a ser considerada por muitos como a maior actriz brasileira de sempre: Cacilda Becker.

Com o mesmo texto ("Três Mil Metros de Altitude", com o título alterado para "Alegres Canções da Montanha"), ela lançaria mais tarde outro nome maior do outro lado do Atlântico: Fernanda Montenegro.


Ester Leão era uma mulher severa, rigorosa no trabalho, mas sempre muito bem-humorada e solidária com as equipas que dirigiu ou integrou, quer como professora, actriz ou encenadora.

Para além da sua inestimável colaboração como professora no TEB e, mais tarde, no Teatro Universitário, e para além ainda de algumas das suas memoráveis criações como intérprete, o que fica sobretudo de seu para a história das artes cénicas brasileiras é o honroso título de Rainha do Teatro que conquistou pelas suas geniais encenações, de que são exemplos mais brilhantes os espectáculos "Romeu e Julieta" de Shakespeare, "Castro" de António Ferreira, "A Dama da Madrugada" de Casona, "O Pai" de Strindberg e "A Morte de Um Caixeiro Viajante" de Arthur Miller.


Para além de ter sido actriz e encenadora nas mais prestigiadas estruturas de produção brasileiras dos dois primeiros terços do século XX, entre as quais se destacam o Teatro de Arte, o Teatro Duse, e as Companhias de Eva Todor, Alma Flora e Luís Iglésias Freire, Ester Leão foi também pioneira do ensino de dicção, corrigindo a voz não só de actores, mas também de ministros e deputados, entre os quais figurava Carlos Lacerda, um dos mais férreos opositores ao ditador Getúlio Vargas.

Fontes: "Entres mares e palcos - notas sobre Esther Leão (1892-1971) - Uma portuguesa no Teatro Brasileiro" (livro "Dramaturgia em Cena") / Facebook  / Blog "Mulheres Ilustres" (Fabulásticas) / Ângela de Castro Reis (1) / Enciclopédia Itaú Cultural / Museu da TV / "Portugueses do Brasil e Brasileiros de Portugal" de Leonor Xavier 

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