sábado, 10 de agosto de 2013

O sucesso internacional do Duo Ouro Negro


Houve um tempo, um tempo breve, em que pareceu que a música popular portuguesa podia ser assim: uma coisa intercontinental, afro-europeia e euro-africana, que pregava um estilo de vida dominado pela elegância e a alegria; atenta às mudanças do mundo e a cada uma das novas tendências internacionais.

Sendo originalmente um trio, foi já como duo que Raul Indipwo e Milo MacMahon - então conhecidos ainda com os seus nomes lusitanos, Raul Aires Peres e Emílio Pereira – se tornaram conhecidos graças às suas espantosas harmonias vocais e a um domínio exímio da guitarra.


Após o êxito conseguido na capital angolana chegam a Lisboa em 1959 pela mão do empresário cinematográfico Ribeiro Belga e, apesar da concorrência em voga no mundo da canção, conquistam em absoluto o público com actuações no Cinema Roma e no Casino Estoril, gravam discos (inicialmente acompanhados pelo conjunto de Sivuca, depois pela orquestra de Joaquim Luís Gomes) e passam pelos écrãs da RTP (onde nessa época se actuava sempre em directo).

Começam a sua internacionalização com a actuação em países como a Suíça, França, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Espanha.


Seguindo a “onda” dos ritmos de dança como o twist, o madison, o surf e muitos outros, o Duo Ouro Negro lança o kwela, que rapidamente se transformou numa moda, sendo considerado o ritmo do Verão em 1965.

A nova moda pegou e, para a cena europeia, representava uma novidade encantadora. Paris rendeu-se ao kwela e a Europa também. Na verdade Kwela significa Flauta no dialecto Zulu, e não é mais do que um misto de twist, surf e uma dança de ritual africana.


Em 1966 actuaram nas galas de comemoração do IV Centenário do Principado do Mónaco  e em 1967 actuaram no Olympia, durante 3 semanas em Maio e 3 semanas em Outubro.

Foram convidados a actuar no II Festival de música popular do Rio de Janeiro, onde acabaram em 8º lugar na fase internacional com o tema "Kubatokuê Mulata" (que foi igualmente regravado por Dino Meira, que na altura estava emigrado no Brasil).


E foram uma das atracções internacionais convidadas a participar no "Rendez-vous avec Danny Kaye", um espectáculo de comemoração do XX aniversário da UNICEF, transmitido em directo do Alhambra, em Paris, para 200 milhões de espectadores.

Não haverão muitos grupos hoje em dia que se orgulhem de poder editar os seus discos em tão longínquas paragens como o Raul e o Milo. Começou em 1965 em Paris com o Kwela, e não mais parou: Estados Unidos da América, Brasil, Colômbia, Argentina, Espanha, Alemanha, Israel, Angola, Moçambique, África do Sul, Japão... Tantos, tantos países.


Mas o ano de 1969 marcou particularmente o Duo, gravam em Buenos Aires para a Odeon, acompanhados pela orquestra de Jorge Leone, "Latino",  um LP que marcaria a música de então, que inclui temas como "El Fuego Compartido", "Quando Cheguei ao Brasil" e "Muamba, Banana e Cola".

Fontes/Mais informações: Os Reis do Yé-Yé / Ratosreturn / Guedelhudos (1) (2) / Angola BelaBlog Duo Ouro Negro / Rubellus Petrinus / Enciclopédia da Música Ligeira sob direcção de Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida

Versão de Dino Meira (1968)

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