O escritor galego Gonzalo Torrente Ballester constrói, em pouco menos de 200 páginas, uma narrativa (*) bem humorada e repleta de críticas à pretensa moral e bons costumes da Igreja, com uma premissa imaginativa
(*) «sherzo em re(i) maior alegre, mas não demasiado» é como o autor lhe chama.
São numerosos os personagens e os factos históricos discretamente transfigurados ao longo da estória que os “institui pela palavra”. A começar pelo “rei pasmado”: Filipe IV (terceiro de Portugal), então com os seus 20 anos de idade e 4 ou 5 de reinado.
Certa noite, depois de uma visita “às meninas”, o jovem soberano não consegue tirar da cabeça o corpo da cortesã Marfisa.
Os severos costumes impostos pela inquisição impedem o Rei de manter um relacionamento intimo com a Rainha. Com o apoio de um padre jesuíta, um português chamado Almeida, o único dos presentes que justificou os devaneios do Rei, o Rei vai procurar rodear esta difícil situação.
Sinopse
A partir do pasmo extasiado do rei ao ver pela primeira vez uma mulher nua, e ao querer ver nua também a rainha, toda uma intriga se tece na corte, metendo nobres, inquisidores, uma afamada meretriz, um jesuíta português, a superiora do convento; toda uma tela de uma obra que bem justifica o qualificativo de pitoresca, num divertimento de primeira água.
Sucesso no Cinema (1991)
As aventuras do «rei pasmado» foram adaptadas ao cinema, num filme dirigido por Imanol Uribe, em que a figura do desenvolto jesuíta padre Almeida é interpretada pelo actor português Joaquim de Almeida.
O filme – uma co-produção hispano-franco-portuguesa - foi rodado em Espanha (Toledo, Ávila, Madrid, El Escorial, Salamanca) e em Guimarães (no coração histórico).
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"Nem todos os da procissão entraram, só os que tinham assento no Supremo, quer como membros titulares quer como teólogos convidados; ou seja, consultores, e entre estes figurava um jesuíta português, o padre Almeida, bastante novo ainda, mas de rosto queimado pelos sóis brasileiros.
O padre Almeida estava de passagem por Madrid: tinham-no destinado a capelão secreto de uma casa de Inglaterra, porque o outro capelão tinha sido justiçado, o que era o mesmo que admitir que não restava muito tempo de vida ao padre Almeida; mas não parecia acabrunhado nem entristecido, nem tão-pouco entusiasmado com o seu futuro martírio: comportava-se com naturalidade, muito mais do que os seus companheiros, apesar da reputação de teólogo sábio que o seu reitor proclamava na carta de apresentação para o Inquisidor-mor com que justificava a sua presença."
O padre Almeida chocava um pouco entre os restantes clérigos, porque usava por cima da sotaina um colarinho à francesa, e porque, ao desabotoá-la por causa do calor, se lhe tinham visto meias pretas e calção. Mas, como estrangeiro, não lho levavam a mal.
"O padre Almeida, sim. O padre Almeida é português, e sabe mais das coisas do mar do que Vossas Mercês".
D. Francisca de Távora
A rivalidade entre o rei e o o Conde de Villamediana (que terá inspirado a Gonzalo Torrente Ballester o seu da Peña Andrada) foi motivada pela inocente doña Francisca de Tavora, filha do português D. Martim Alonso de Castro, general das galeras de Portugal e vice-rei da Índia, que o Rei também cortejava.
O Rei elogia a forma de dançar de D. Francisca, que o informa que aprendeu a dançar “em todas as ilhas perdidas desses mares onde os homens e as mulheres dançam, mas muito especialmente no Norte de Portugal“
D. Francisca de Távora (ou D. Paca, como é igualmente é identificada) foi interpretada no filme pela actriz espanhola Eulalia Ramón, que dança a chacona.
Camões e Ronsard
Deve ser essa doidivanas de Dona Paca de Távora.
O conde respondeu-lhe com uma ligeira inclinação de cabeça.
- É mui formosa, Majestade.
- A Rainha não nutre simpatia por ela.
- É natural, senhor. Uma refinada francesa e uma exuberante portuguesa não estão
destinadas a entender-se. É como se Vossa Majestade comparasse Camões com Ronsard.
- De Camões li muitos versos, mas a esse outro nunca o ouvi nomear.
- Certamente, senhor, Sua Majestade a Rainha sabê-lo-á de cor.
Fontes: Edição digital do livro / A minha estante / Passamos como o rio / El Pais / Tese Erica Myeko Ohara
3 comentários:
Tese
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2006/anaisEvento/docs/CI-290-TC.pdf
Amália/Poster
http://www.galerie123.com/posters/search/%22Portugal%22/0
Hendrix/Mateus
http://www.sograpevinhos.eu/sogrape/historia ----(1950)
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Pera Rocha
http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIECO099031.html
Modelos
http://www.dinheirovivo.pt/Slideshows/Detalhe/CIECO098916.html
Lido de fresco :-)
Só me falta ver o filme...
http://numadeletra.com/cronica-do-rei-pasmado-de-gonzalo-65578
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