Tomaz Alcaide, alentejano de Estremoz nascido no início do século, teve o arrebatamento de se lançar numa carreira internacional, ainda jovem, numa ascensão meteórica que o levou aos principais teatros de ópera da Europa.(...)
Em 1925, com 24 anos, resolve ir para Itália para se aperfeiçoar no canto (com pouquíssimo dinheiro, sem uma carta de recomendação e nenhum bilhete de apresentação).
Em Milão tem a sorte de encontrar um professor, o maestro Fernando Ferrara, de quem ficará grande amigo para sempre. Numa semana começa as aulas de voz, pouco tempo depois arranja um agente teatral, passados oito meses estreia-se no Teatro Carcano de Milão, participando em seis actuações da ópera «Mignon», de Ambroise Thomas, e recebendo críticas extremamente favorável na imprensa milanesa.
Durante os anos que se seguem, através do seu agente, Alcaide foi arranjando contratos para cantar em teatros de ópera em Itália, na Suíça, na Alemanha, nos Estados Unidos.
E nesta tarimba foi aperfeiçoando alguns dos papéis fundamentais no seu repertório: Duque de Mântua («Rigolleto»/Verdi), Rodolfo(«La Bohéme»/Donizetti), Conde de Almaviva («Barbeiro de Sevilha»/Rossini), Cavaleiro Des Grieux («Manon»/Massenet), Doutor Fausto («Fausto»/Gounot), Werther («Werther»/Bizet).
Os anos 30 foram a década de ouro da carreira de Tomaz Alcaide. Cinco anos depois de chegar a Itália, assina um contrato para uma temporada do Teatro Real de Ópera de Roma e meses mais tarde é disputado pelo Scalla de Milão, que o quer ter no elenco da ópera. É o sonho que se materializa, definitivamente [em Março de 1930], na consagração do artista. (...)
Entretanto, o tenor famoso é constantemente requisitado. Já nem tem tempo para todos os contratos que lhe oferecem. Viaja muito. Participa nos grandes festivais (Salzburgo, por exemplo), canta nas Óperas de Viena, de Zurique, de Paris. Pertence à elite dos cantores e cruza-se com os maiores do seu tempo.
Em Bérgamo (Itália), em três óperas com os maiores cantores mundiais nos respectivos papéis, consideram-no o melhor intérprete de Fausto do mundo. Passa uma temporada na Finlândia, outra em Bruxelas e mais outra em Monte-Carlo.
Com a partida para a América do carismático maestro Arturo Toscanini, o Scalla de Milão entra num período de crise. Alcaide julga não ser considerado como merece na nova distribuição de papéis de mais uma temporada. Num impulso de desgaste parte para Bordéus. Instala-se num palacete e permanece quase um ano no Grand Théatre. Mais tarde, terá um desabafo considerando esta atitude o primeiro passo em falso na sua carreira: «Nunca deveria ter abandonado o meu lugar de primeiro tenor do Scala».
Nos anos em que esteve afastado de Itália, o país mudou. Quando tenta regressar, no final do anos 30, é impossibilitado de poder cantar em Itália por ser estrangeiro. A solução que lhe propõem é que mude de nacionalidade. Impensável. Nasceu português, morrerá português.
Durante um período de oito meses instala-se em Bruxelas com um contrato do Teatro de la Monnaie. Alcaide vive ainda uma época farta em convites e participações para inúmeras óperas.
Em 1939, encontra-se em Portugal para terminar o episódio do processo em tribunal e resolve permanecer durante um período breve em Cascais, para fazer umas férias. Em vésperas de partir, subitamente, o destino troca-lhe de novo as voltas: Hitler tinha acabado de invadir a Polónia. A Europa estava à beira da guerra. Tomaz Alcaide tinha 38 anos. E assim, abruptamente, terminara a sua carreira de grande cantor.
Fontes: Ana Soromenho (adaptado) / Cine-jornal / Facebook
Tomás de Alcaide foi reconhecido pela insuspeita His Master’s Voice (HMV) como o maior tenor ligeiro do mundo.
Mais informações: "Tomaz Alcaide 1901-1967" de Mario Moreau / Grandivoci / Opera per tutti
1 comentário:
Belíssimo blog, este! P A R A B É N S pelo labor, saber e paixão.
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