terça-feira, 9 de novembro de 2010

John Enos, um Português no Faroeste

João Ignácio d’Oliveira nasceu a 28 de Fevereiro de 1838 na freguesia de Santo Antão, na ponta Leste da ilha de São Jorge, nos Açores.

João Ignácio terá emigrado como marinheiro de um navio de caça à baleia, como acontecia com tantos outros. Nos anos 60 já se encontra no rio Columbia, no extremo Noroeste americano, a trabalhar num barco a vapor, com o nome de John Enos – nome que resulta da evolução Ignacius-Ignácio-Inácio-Enos, explicam os etimólogos.

É nessa altura que começa a comprar gado, e em 1870 já está em Yakima, a oeste do rio, no seu primeiro rancho. Pouco depois atravessa a água e estabelece-se em Cannaway Creek, no então Lincoln County (...) imediatamente antes de se juntar ao Snake e rumar ao Pacífico – o chamado "Big Bend" (Terra da Grande Volta), uma planície "ondulante, desértica e semi-árida", como explica William S. Lewis em "The Story of Early Days in The Big Bend Country", de 1926.

E é a partir daí, nas terras livres da exploração open-range (terrenos do estado, de utilização gratuita), que construirá o seu império.


Mito do Portegee Joe

(…) O seu rancho, dizia-se, estava assombrado. Enos, como enumerou Kenneth Kallenberger em Saga Of Portegee Joe, gerava todos os mitos: envenenara três índios, enterrando-os no rancho junto com dois cowboys, enforcara um chinês, matara um jovem ladrão de cavalos, tinha cinco golpes na pistola, roubava cavalos e trazia-os para o rancho de noite, fugira da justiça no Leste da América, chicoteava os seus funcionários...

Muitas mães repreendiam as crianças com a ameaça: "Se não de comportares, Portegee Joe vai apanhar-te!" Mas, nos relatos dos que o conheceram, compilados mais tarde pelos jornais e pelos historiadores, Enos era precisamente o contrário: um homem afável e bondoso, embora irascível em determinados momentos.


Visionário

John Enos era um visionário para a época, e essa é outra das características mais extraordinárias da sua história. No seu rancho de Cannaway Creek, criou um inovador sistema de rega, plantou um pomar que proporcionava maçãs aos funcionários, construiu uma casa em cima de uma fonte para usar a sua refrigeração, escavou uma adega atrás de uma colina e semeou árvores altas alinhadas, para proteger tudo contra o vento.

"Todos os seus projectos eram bem pensados e executados", diz o escritor B. J. Lyons no artigo "Thrills and Spills of a Cowboy Rancher". Os invernos desastrosos de 1880, 1881, 1889 e 1890 não o impediram de progredir. O grande terramoto de 1872 foi quase um 'fait-divers'. Confrontado com a crise da economia, Enos chegou a ir a Chicago de comboio, com gado vivo na bagagem, para escoar o produto.

Quando lhe faltou o dinheiro, pediu emprestado sem problemas. Improvisou sempre – e, a cada contrariedade, reergueu-se invariavelmente. Em 1888 já tinha terras (22 mil hectares) e gado (mais de mil cabeças) no valor de vinte mil dólares. Tornou-se no segundo homem mais rico do condado de Lincoln.

Foi essa mesma visão estratégica que lhe permitiu, com o aproximar do novo século, antecipar-se ao desfecho inevitável da História: o fim da época gloriosa da criação de gado, substituída gradualmente pela agricultura. "Portuguese Joe" enceta aquilo que viria a constituir uma mudança radical na sua actividade: a passagem de cowboy a industrial hoteleiro e, mais tarde, a banqueiro.

Fontes/Mais informações: Joel Neto (Grande Reportagem) / Silvia Caneco (i) / Ipsilon (Público)

1 comentário:

Blogger disse...

E contrabandistas

http://www.olhao.web.pt/Personalidades/Zora.htm