Michel Vaillant é um personagem de banda desenhada da autoria de Jean Graton, que de uma forma muito própria, conseguia misturar a realidade e a ficção, pondo Michel a conviver com os maiores campeões de sempre do desporto automóvel.
Centrando a sua carreira na fórmula 1, onde chegou a andar a mais de 300 à hora nas ruas de Paris, não deixou de participar nas várias disciplinas do desporto motorizado. Conhecemos-lhe uma vitória no Paris / Dakar e várias incursões no mundial de ralis, para além das vitoriosas participações nas 24h de Le Mans.
As aventuras de Vaillant foram editadas inicialmente, em Portugal, através da revista “Cavaleiro Andante” que rebaptizou o herói com o nome mais português de Miguel Gusmão.
Michel Vaillant participou no “Rali em Portugal” (“Cinq filles dans la course” na versão original de 1971), e voltou à capital portuguesa em “O Homem de Lisboa” (“L’ homme de Lisbonne” de 1984), numa intriga sobre espionagem industrial. E teve “Um encontro em Macau” (“Rendez-vous à Macao” de 1983).
" Rali em Portugal" (1971)
Editado em 1971, com o título original "5 Filles dans la Course!", centra-se na 3ª edição do Rali TAP disputada no ano de 1969. Dando seguimento ao álbum anterior, "De L'huille sur la Piste", a história deste livro tem como foco principal o relacionamento entre os pilotos de automóveis e as mulheres.
Com o Rali de Portugal como pano de fundo, a equipa Vaillante junta-se a outras duas equipas mistas para termos cinco raparigas na corrida. Michel faz parceria com Françoise Latour a sua futura mulher.
Mas é o eterno mulherengo Steve Warson que se torna na personagem principal do livro. Para além da companheira de viatura, a Portuguesa Cândida Maria de Jesus, que no seu estilo habitual tenta conquistar, é confrontado com a presença da quinta rapariga, a Americana Betty, "la grande saucisse", que lhe fará a cabeça em água ao longo de todo álbum e que terá mais tarde participações nos livros "Rush" e "Des Filles et des Moteurs".
A passagem por Portugal é bem notada, o desenho está impecável, e os locais facilmente reconhecíveis, começando pelo primeiro "quadradinho" que nos mostra um 727 da TAP e uma vista do Castelo de S.Jorge com a Ponte Salazar (estamos em 1969) ao fundo bem como o Cristo Rei.
Também curioso é a passagem do Rali pela noite de Sintra, na qual o autor brinda-nos com os comentários dos espectadores, em Português, como são exemplo os "é o Jacky Ickx Anda Jacky!", "mais depressa", "vão matar-se!", "estão doidos!" e a melhor "anda os franceses".
Não faltam as referências a personagens portuguesas como Augusto César Torres, director da prova até à sua morte ou Alfredo Vaz Pinto, vice primeiro-ministro de Marcello Caetano.
Michel, Françoise, César Torres, Cândida, Brigitte e Jacky Ickx. |
Mais do que um livro de banda desenhada, “Rali em Portugal” é uma homenagem ao nosso País, pela descrição afectiva que faz dos lugares. Aliás, o trabalho de investigação observa-se extremamente bem conseguido.
Serra de Montejunto |
Cândida mostra a Universidade de Coimbra |
Abundam as descrições minuciosas dos troços onde se desenrolam as corridas. Lisboa, Sintra, Arganil, Buçaco, Montejunto, Coimbra e a sua Universidade, Estoril e os jardins do Casino… é um autêntico roteiro turístico em forma de desenhos em quadradinhos. Aliás, a primeira vinheta trata logo de descrever a imagem única que é o avião a fazer um círculo sobre o Tejo para se enquadrar com a pista da Portela.
"O homem de Lisboa" (1984)
Michel Vaillant volta a Portugal e ao Rali de Portugal, mas desta vez quem corre pela Vaillante é Steve Warson acompanhado pela sua nova namorada Julie Wood, que aproveitam para passear por Lisboa, passando pelo elevador da Glória e pela Torre de Belém.
Michel faz uma viagem de urgência a Lisboa para "brincar" aos espiões. Documentos secretos, da futura viatura revolucionária de turismo, são roubados da fábrica Vaillante. Michel tem de apanhar o traficante americano Tony Cardoza e recuperar os documentos.
Paralelamente à espionagem industrial, temos oportunidade de acompanhar a prestação de Steve e Julie no rali. As primeiras 4 páginas são dedicadas à loucura dos espectadores Portugueses.
Aos mares de gente que acorriam às classificativas, especialmente as de Sintra, e que rodeavam a estrada completamente, só se afastando dos carros no último momento.
Quanto a Portugueses temos novamente a presença de César Torres o organizador da prova, bem como a dupla Jorge Ortigão/João Baptista que correm ao volante de um dos Vaillante Comando e também o maior dos bedéfilos que é retratado algures na página 33.
Buçaco
Uma das imagens mais interessantes de "Rali em Portugal" é o Hotel Palácio do Buçaco onde Steve e Betty têm o seu primeiro "desencontro".
Estoril
O Hotel Estoril Sol, o Clube de Ténis do Estoril e o Casino Estoril são alguns dos cenários de "Rali em Portugal".
Setúbal
No livro “Rali em Portugal” há o registo de um pequena passagem por Setúbal a caminho da capital, o piloto passa por uma das artérias mais movimentadas da cidade junto a um dos mais antigos e conhecidos stands de automóveis da cidade.
Sintra
A Sintra o autor dedica cinco pranchas do álbum. De início os pilotos queixam-se do musgo que cobre os paralelos do piso, tornando-o numa pista de patinagem, das ruas estreitas e das curvas apertadas.
É o Assalto a Sintra “porque se trata de um verdadeiro assalto: a escalada de um ninho de águias por ruelas estreitas e uma sucessão de curvas apertadas!”
E vemos a Quinta Mazziotti, o arco da Penha Verde e o Largo do Vítor na confluência com o início da Estrada da Pena!!!
Montagem de Pedro Macieira |
E em "O homem de Lisboa" é utilizado o cenário da Lagoa Azul para a passagem dos bólides, em que os desenhos demonstram fielmente as loucura que os espectadores praticavam para verem quase em cima dos carros os seus pilotos favoritos, criando situações de grande perigo.
"Febre de Bercy" (1988)
Em 1998 foi lançado “A Febre de Bercy” (“La Fièvre de Bercy”), primeira parte de uma aventura em dois volumes centrada no Elf Masters de Bercy, a prova de karts que fecha a temporada da Fórmula 1 e que, desta vez, conta com a participação de Michel Vaillant e de Steve Warson.
Para os leitores portugueses, a história tem o aliciante de contar com o português Pedro Lamy como um dos concorrentes, para além da intriga (vagamente) policial girar em torno de um CD contendo um programa de cronometragem criado pela Fastnet, uma empresa dirigida por um português, John Cabral que, ao que tudo indica, não é tão inocente como parece...
Fontes/Mais informações: Livros a Doi2 (1)(2) / João Miguel Lameiras (Diário das Beiras), Pedro Macieira (em blog Rio das Maças) / Memória recente e antiga / Alagamares / Paulo Almeida / Geocaching / As leituras do Pedro (1) / Por um punhado de imagens / Sobre Pedro Lamy
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