São abundantes os temas e os motivos portugueses no teatro espanhol do "Siglo de Oro". A noção de espanhol como algo contrastante com o português ainda não existia na época nos territórios que compõem o actual Estado Espanhol.
Há ainda que ter em conta que o apogeu da comédia espanhola, representado por autores como Lope de Vega, Calderón de la Barca ou Tirso de Molina, coincide largamente com a época da dinastia filipina (entre 1580-1640).
Se excluirmos as tragédias “Nise lastimosa” e “Nise laureada” de Fr. Jerónimo Bermúdez, sobre Inés de Castro, Lope de Vega foi o primeiro autor espanhol que se interessou por personagens e temáticas portugueses. O tema foi estudado, em 1936, por Hipólito Raposo, que identificou na obra do comediógrafo espanhol catorze ou quinze obras dramáticas dedicadas a “figuras e factos portugueses, sem contar com outras obras onde há alusões laudatórias ou irónicas à nossa gente.
Esta vertente “lusista” iniciou-se com duas comédias de Lope de Vega: “La tragedia del Rey D. Sebastián y bautismo del príncipe de Marruecos" (de 1595-1603) – cujo protagonista era D. Sebastião, sobrinho de Filipe II, que ainda era rei nessa época - e “Don Manuel de Sosa y naufrágio prodigioso y príncipe trocado" (1598-1600).
Lope de Vega dedicou outras comédias a temáticas portuguesas ou ambientadas em Portugal: “El duque de Viseo”, “La fortuna adversa del infante don Fernando de Portugal”, “El más galán portugués, duque de Berganza”, “El príncipe perfecto”, “La intención castigada”, “El guante de doña Blanca”, “El primer rey de Castilla”, “Burlas y enredos de Benito”, “La lealtad en el agravio”, ou “El Brasil restituído” (que põe em cena a oposição das forças conjuntas luso-castelhanas à invasão de Salvador de Bahia pelos holandeses em 1624), entre outras.
“El Duque de Viseo" é nem mais nem menos que a trágica e aliciante dramatização das querelas entre D. João II e a grande nobreza, saldadas entre1483 e 1484 pela degolação do duque de Bragança (Guimarães na peça, o que não está errado) e pelo assassínio, às mãos do próprio rei, de D. Diogo, seu primo e cunhado.
Composta antes de 1610, a comédia talvez tenha até sido objecto de sobressaltos de um lado e de outro da fronteira e nesses nem o próprio dramaturgo estava interessado . Seria, então, para serenar os ânimos que Lope praticamente se desdisse quando, ainda antes de 1614, escreveu e fez representar “El Príncipe Perfecto”.
Na peça “El Más Galán Portugués, Duque de Verganza” (de 1610-17), ambientada no reinado de Afonso V no Século XIV, o protagonista é D. Jaime, o impetuoso e ciumento filho de D. Fernando (condenado à morte por D. João II em "El Duque de Viseo".
Fontes/Mais informações: “D. Sebastião e Alcácer Quibir em duas comédias espanholas do Siglo de Oro: La Tragedia del Rey Don Sebastián y del Príncipe de Marruecos, de Lope de Vega, e Comedia Famosa del Rey Don Sebastián, de Luis Vélez de Guevara” de António Apolinário Lourenço / “Portugal e os portugueses no palco espanhol: a visão de Lope de Vega” de Maria del Rosario Leal Bonmati / "Lope de Vega y Portugal" de Joaquin Entrambasaguas / “Simpatias, inimizades e algumas confusões: D. João II no teatro de Lope de Vega” de Maria Idalina Resina Rodrigues / "Portugal en el teatro español del siglo XVII" de José Ares Montes
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