segunda-feira, 15 de julho de 2019

Maria Callas em Lisboa na peça "Lisbon Traviata"


Maria Callas, então a mais famosa cantora de Ópera do mundo, estreou-se em Lisboa, em Março de 1958, a cantar "La Traviata", de Verdi. Decorria a temporada de ópera do São Carlos. Ao seu lado estava um tenor ainda desconhecido, Alfredo Kraus. A gravação de uma das récitas de São Carlos tornou-se célebre e é uma referência fundamental.

Terrence McNally, dramaturgo premiado com nem mais nem menos do que quatro Tonys, escreveu em 1985 "The Lisbon Traviata", em que explora a obsessão por Callas e por esta gravação. A peça acabou por ter algum sucesso em Nova Iorque e em Londres.


A acção decorre no presente (de então) e a peça foi considerada ousadíssima, viviam-se os primeiros e conturbados tempos da SIDA, Rock Hudson, o primeiro nome mundialmente conhecido a sofrer da doença, morreu nesse ano. Todas as quatro personagens da peça são gays, duas delas, Stephen e Mike, numa relação de anos que agoniza nos seus últimos dias, quando já surge no horizonte uma terceira pessoa para Mike, um rapazinho mais novo de seu nome Paul (fixem este nome), que, diz-nos o autor, está a meio da casa dos vinte.

O pretexto para a peça é o facto de ter acabado de surgir no mercado uma nova Traviata com a Callas (fui verificar, o disco foi lançado em 1980), uma gravação pirata da sua célebre Violetta de 27 de Março de 1958 em Lisboa, no Teatro de S. Carlos.


O primeiro acto decorre em casa de Mendy, a seguir a um jantar em que tem Stephen como convidado. Stephen calha a mencionar a "Traviata de Lisboa", que acabou de comprar, e a partir daí Mendy fica posseso, num frenesi insuportável, quer à viva força ir buscar o disco, morre se não o ouvir quanto antes.

Stephen recusa firmemente, Mike está na casa de ambos e recebe nessa noite o seu novo namorado. Que nasceu em Portugal, filho de portugueses, que poderá (ou não, e é isso que Mendy tenta desesperadamente tirar a limpo) ter sido levado pelo avô a ver a "Traviata de Lisboa", no Teatro San Marco — leram bem. E que se chama Paul Della Rovere — também leram bem.

Fontes/Mais informações: "A Gota de Rantanplan" / wikipedia / Hemeroteca digital   Noticias magazine / Flama / Século ilustrado (em "iconografia" / valkirio
 
"O Século Ilustrado" (1958)

Revista Flama (1958)
Quando os erros estão no original ...

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