Em Setembro de 1944, Amália fez a sua estreia no Brasil no Casino de Copacabana, o local de maior prestígio da América latina, nesses anos de guerra. Mas não se apresenta apenas como cantora: preparam para a sua aparição um espectáculo, "Numa Aldeia Portuguesa", cantando seis fados, dois com orquestra e os outros com o conjunto de guitarras de Fernando de Freitas, que viajara com ela para a acompanhar a rigor, tudo isto numa moldura muito bonita e com dois vestidos riquíssimos, umas casaquinhas com vastas saias em tons de vermelho escuro, um bordado a ouro e o outro a veludo preto, com vastos xailes bordados e até um avental ostentando o escudo nacional.
Foi um enorme sucesso, ia com contrato para quatro semanas e ficou quatro meses. E pediram-lhe que voltasse breve, com um conjunto de seis raparigas bonitas, para fazer uma grande digressão pelo Brasil.
Mal Amália chegou a Lisboa, muito festejada, começou a preparar o regresso ao Brasil, mas como não percebia nada de organizar companhias foi aconselhar-se com Manuel Santos Carvalho. E assim começa a aventura de Amália no teatro brasileiro.
Novos números. Em homenagem a Getúlio Vargas. |
Levaram Frederico Valério como director musical e Amadeu do Vale, para abrasileirar os textos das duas obras a apresentar: a revista "Boa Nova" e a opereta "A Rosa Cantadeira".
Quando Amália chegou ao Rio com aquela companhia e sem nenhuma rapariga bonita, Atalaia, o director do Casino de Copacabana ficou espantado, não queria nada daquilo. E então, constituiu-se apressadamente a “Companhia de Revista Amália Rodrigues”, que aportou ao Teatro República, misturada com artistas brasileiros, umas bailarinas, as 20 Boa Nova girls, mais o tenor português Luís Piçarra, fizeram-se cenários e guarda-roupa, tudo novo e muito bonito, e Amadeu do Vale fez uma revista a criticar os costumes brasileiros, que estreou a 20 de Agosto de 1945.
Na TV Excelsior |
A crítica detestou, por os portugueses se atreverem a criticar os brasileiros, mas mesmo assim, sobretudo devido a Amália, a revista manteve-se quase dois meses em cena.
Entretanto, para equilibrar as finanças, Amália cantava à segunda-feira, dia de folga dos teatros, no Casino de Copacabana. Cantava o seu reportório e, como Valério e Amadeu do Vale lá estavam, coisas novas, como o "Fado Brasileiro", que ficaria conhecido como o "Fado Xuxu".
E depois da revista, a 17 de Outubro, veio então "A Rosa Cantadeira", com Amália na protagonista, e que foi um sucesso, com o "Fado do Ciúme", a "Marcha da Mouraria", e triunfo supremo, um fado novo que se tornaria num dos êxitos máximos, "Ai, Mouraria", em que a memória da cidade distante se confunde com um amor fugaz, com um bairro e uma rua, ´a Velha Rua da Palma`, e música evocadora de Valério: por força de ter sido escrito em terras distantes.
Foi o único fado de Valério que Amália manteria no seu reportório, até ao fim. Foi com base no seu princípio que Charles Aznavour mais tarde escreveria "Ay, Mourir Pour Toi".
Fontes/Mais informações: "Amália coração independente" (Pavão dos Santos) / Blog "Amália Rodrigues centenário" (1)(2)(3)
Imagens: "Amália Rodrigues centenário" / Jornais brasileiros (Diário de Notícias, Correio da Manhã, Sports) / Teatro em Portugal (Facebook) / Discogs
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