Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Casablanca, localizada em Marrocos, então governado pelo governo francês de Vichy, era o penúltimo ponto na rota para a América. Os refugiados que ali residiam necessitavam de um visto (Letter of transit) para Portugal, e apenas em Lisboa embarcariam num navio para o Novo Mundo. Um dos locais de encontro (na ficção) era o bar Rick´s.
A posição de neutralidade de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial contribuiu para que Lisboa adquirisse uma aura de lugar privilegiado de intriga internacional e de diplomacia mundial. Uma fachada de normalidade formal fixada nas imagens da aceitação dos embaixadores especiais no Palácio da Ajuda em 1940, a chegada crescente de refugiados que procuravam desesperadamente encontrar uma passagem marítima para os Estados Unidos da América e Ibero-América foram factores decisivos para a consolidação desta nova opinião internacional que se construiu de Lisboa.
Outro elemento importante foi também o estabelecimento de voos regulares entre Port Washington (Long Island) e Lisboa, assegurados por hidroaviões de passageiros (os clippers Boieng-314 da Pan American Airlines) a partir de Junho de 1939. Apesar de utilizados por uma minoria privilegiada de muito ricos, a modernidade, rapidez e sofisticação deste meio transporte ajudou a reforçar a imagem de uma certa modernidade e de cosmopolitismo da cidade.
Ponto nevrálgico de rotas marítimas e aéreas, Lisboa reforçou a sua posição no “mapa-mundo norte americano” a partir do momento em que na grande produção Casablanca (1942) de Michael Curtiz, a cidade constitui o destino onde muitos desejavam chegar desesperadamente.
Lisboa nunca é mais do que uma miragem longínqua, mas é sinónimo de liberdade, ainda que em trânsito para outro continente. Lisa (Ingrid Bergman) e Lazlo (Paul Henreid) partem para Lisboa, Rick (Humphrey Bogart) fica para trás. Podemos ver muitas vezes esta cena, ele nunca tomará aquele avião para Lisboa e no fundo sabemos que foi melhor assim.
Fontes: João Mascarenhas Mateus / Estrolabio / Filmes-segunda-guerra / AterrememPortugal / Captomente (imagens) / Filmes com Lisboa dentro (blog "Le cool Lisboa")
Yvonne é desprezada por Rick |
Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus, emitiu vistos para muitos milhares de refugiados que fugiam da morte. Entre eles, o actor Marcel Dalio (que viria a interpretar o ‘croupier’ Emil de "Casablanca") e a sua jovem esposa Madeleine Lebeau (que teve o papel de Yvonne, a amante desprezada por Rick).
Chegados de comboio a um dos escassos países europeus sem ruído de bombas, Madeleine Lebeau e Marcel Dalio não ficaram na capital, rumando à Figueira da Foz, uma das estâncias balneares que então acolheram muitos estrangeiros. E a 8 de agosto de 1940, estavam entre os 317 passageiros que embarcaram no ‘Quanza’, navio da Companhia Nacional de Navegação que costumava ligar Lisboa a Angola e Moçambique, fretado de propósito para a sua primeira viagem à América do Norte.
Fonte/Mais informações: De Lisboa à América (Correio da Manhã)
Marcel Dalio como o croupier Emil |
Michael Walsh foi desafiado por Maureen Egen, então presidente da Warner boobks, a escrever um romance que continuasse o enredo de "Casablanca".
Em Lisboa, o casal de refugiados, Victor e Ilsa, demora-se apenas um dia e uma noite: "O avião aterrou em Lisboa sem incidentes. Victor e Ilsa passaram facilmente pelas formalidades da alfândega. Ocuparam os quartos do Hotel Aviz sem que lhes fizessem perguntas. Nessa noite, dormiram juntos, sem paixão."
Mas é em Lisboa que tomam conhecimento do bombardeamento de Pearl Harbour e da entrada dos E.U.A. na Segunda Guerra Mundial, optando por ir para Londres, e não para a América como planearam, onde Victor irá dirigir a resistência checa.
Ilsa deixa uma mensagem a Rick dando conta do seu destino, e entrega-a ao senhor Medeiros, recepcionista do hotel. Rick recebe a mensagem e parte para Londres, sempre com o capitão Renaud e com Sam, o pianista.
Fontes/Mais informações: Wikipedia / Leonor Pinhão em Revista "Livros" (Semanário Independente) / New York Times / Blog Beco das Barrelas
Outras Curiosidades
"Casablanca" foi recriado na TV norte-americana numa curta série de 8 episódios. No episódio-piloto, "Who holds tomorrow" (1955), e após a Sra. Johanssen (Anita Ekberg) pedir a Sam (Clarence Muse) para tocar uma música, Sam comenta com Rick (Charles McGraw):
"Lembra-te do verão que passámos em Portugal. O mesmo tipo de rapariga."
Fontes: Le blog du west / Extras do DVD "Casablanca"
Na sitcom norte-americana "Frasier" há uma referência ao filme quando Daphne, interpretada pela actriz inglesa Jane Leeves, refere: "Ela está a ir para Lisboa para combater os nazis".
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