sexta-feira, 15 de abril de 2016

Lisboa como destino e ponto de passagem em “Casablanca” (1942) e na sua sequela "As Time Goes By" (1998)


Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Casablanca, localizada em Marrocos, então governado pelo governo francês de Vichy, era o penúltimo ponto na rota para a América. Os refugiados que ali residiam necessitavam de um visto (Letter of transit) para Portugal, e apenas em Lisboa embarcariam num navio para o Novo Mundo. Um dos locais de encontro (na ficção) era o bar Rick´s.

A posição de neutralidade de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial contribuiu para que Lisboa adquirisse uma aura de lugar privilegiado de intriga internacional e de diplomacia mundial. Uma fachada de normalidade formal fixada nas imagens da aceitação dos embaixadores especiais no Palácio da Ajuda em 1940, a chegada crescente de refugiados que procuravam desesperadamente encontrar uma passagem marítima para os Estados Unidos da América e Ibero-América foram factores decisivos para a consolidação desta nova opinião internacional que se construiu de Lisboa.


 Outro elemento importante foi também o estabelecimento de voos regulares entre Port Washington (Long Island) e Lisboa, assegurados por hidroaviões de passageiros (os clippers Boieng-314 da Pan American Airlines) a partir de Junho de 1939. Apesar de utilizados por uma minoria privilegiada de muito ricos, a modernidade, rapidez e sofisticação deste meio transporte ajudou a reforçar a imagem de uma certa modernidade e de cosmopolitismo da cidade.

Ponto nevrálgico de rotas marítimas e aéreas, Lisboa reforçou a sua posição no “mapa-mundo norte americano” a partir do momento em que na grande produção Casablanca (1942) de Michael Curtiz, a cidade constitui o destino onde muitos desejavam chegar desesperadamente.



Lisboa nunca é mais do que uma miragem longínqua, mas é sinónimo de liberdade, ainda que em trânsito para outro continente. Lisa (Ingrid Bergman) e Lazlo (Paul Henreid) partem para Lisboa, Rick (Humphrey Bogart) fica para trás. Podemos ver muitas vezes esta cena, ele nunca tomará aquele avião para Lisboa e no fundo sabemos que foi melhor assim.

Fontes: João Mascarenhas Mateus / Estrolabio / Filmes-segunda-guerra / AterrememPortugal / Captomente (imagens) / Filmes com Lisboa dentro (blog "Le cool Lisboa")

Yvonne é desprezada por Rick
Actores de "Casablanca" salvos por Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus,  emitiu vistos para muitos milhares de refugiados que fugiam da morte. Entre eles, o actor Marcel Dalio (que viria a interpretar o ‘croupier’ Emil de "Casablanca") e a sua jovem esposa Madeleine Lebeau (que teve o papel de Yvonne, a amante desprezada por Rick).

Chegados de comboio a um dos escassos países europeus sem ruído de bombas, Madeleine Lebeau e Marcel Dalio não ficaram na capital, rumando à Figueira da Foz, uma das estâncias balneares que então acolheram muitos estrangeiros.  E a 8 de agosto de 1940, estavam entre os 317 passageiros que embarcaram no ‘Quanza’, navio da Companhia Nacional de Navegação que costumava ligar Lisboa a Angola e Moçambique, fretado de propósito para a sua primeira viagem à América do Norte.

Fonte/Mais informações: De Lisboa à América (Correio da Manhã)

Marcel Dalio como o croupier Emil
A continuação de "Casablanca" em "As Time Goes By" ("Adeus Casablanca") de Michael Walsh (1998)

Michael Walsh foi desafiado por Maureen Egen, então presidente da Warner boobks,  a escrever um romance que continuasse o enredo de "Casablanca".


Rick e Renaud não chegam a ir para Brazaville, optando por seguir para Lisboa: "acontecesse o que acontecesse seguiriam Victor Laszlo e Ilsa Lund até Lisboa".

Em Lisboa, o casal de refugiados, Victor e Ilsa, demora-se apenas um dia e uma noite: "O avião aterrou em Lisboa sem incidentes. Victor e Ilsa passaram facilmente pelas formalidades da alfândega. Ocuparam os quartos do Hotel Aviz sem que lhes fizessem perguntas. Nessa noite, dormiram juntos, sem paixão."


Mas é em Lisboa que tomam conhecimento do bombardeamento de Pearl Harbour e da entrada dos E.U.A. na Segunda Guerra Mundial, optando por ir para Londres, e não para a América como planearam, onde Victor irá dirigir a resistência checa.

Ilsa deixa uma mensagem a Rick dando conta do seu destino, e entrega-a ao senhor Medeiros, recepcionista do hotel. Rick recebe a mensagem e parte para Londres, sempre com o capitão Renaud e com Sam, o pianista.

Fontes/Mais informações: Wikipedia / Leonor Pinhão em Revista "Livros" (Semanário Independente) / New York Times / Blog Beco das Barrelas
 
Outras Curiosidades

"Casablanca" foi recriado na TV norte-americana numa curta série de 8 episódios.  No episódio-piloto, "Who holds tomorrow" (1955), e após a Sra. Johanssen (Anita Ekberg) pedir a Sam (Clarence Muse) para tocar uma música, Sam comenta com Rick (Charles McGraw):

"Lembra-te do verão que passámos em Portugal. O mesmo tipo de rapariga."

Fontes: Le blog du west / Extras do DVD "Casablanca"


Na sitcom norte-americana "Frasier" há uma referência ao filme quando Daphne, interpretada pela actriz inglesa Jane Leeves, refere: "Ela está a ir para Lisboa para combater os nazis".


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