segunda-feira, 15 de junho de 2020

Influência portuguesa na obra de Ernesto Halffter (1905-1989)

 

Ernesto Halffter Escriche (1905-1989) foi um maestro e compositor espanhol que fez parte do "Grupo de los Ocho" (um sub-conjunto da Geração de 27). Ele era o irmão mais novo do compositor Rodolfo Halffter e tio do compositor Cristóbal Halffter.

Ernesto chegou a ser conhecido como o Halffter Português em contraste com o seu irmão Rodolfo Halffter que era conhecido como o Halffter Mexicano,  após se ter exilado no México, durante a ditadura de Franco, enquanto que Ernesto se instalou em Portugal.


Discípulo de Manuel de Falla, assume em 1924 a direcção da Orquestra de Câmara Bética de Sevilha, fundada por Falla. As suas primeiras contribuições para o mundo da música foram "Twilight" (1922), para piano e "Sinfonietta" (1925), para orquestra, com influência do compositor italiano Domenico Scarlatti,que recebeu o Prémio Nacional de Música. E estagia, durante quase um ano, com Maurice Ravel em Paris.

As famosas "Dança da Pastora" e "Dança da Cigana" do Ballet "Sonatina", de 1928, já são dedicadas à namorada, a pianista portuguesa Alice Câmara Santos, com quem se casará nesse mesmo ano.


O seu casamento com a pianista portuguesa Alice Câmara Santos liga-o de forma especial a Portugal e à sua música.  Ernesto Halffter acabou por se identificar totalmente com o folclore e as raízes portuguesas, tendo afirmado que era um grande admirador do fado pela sua profunda e bela essência popular, inimitável e que expressa tão bem a marcante personalidade do povo português.

Em 1934 Halffter tornou-se Director do Conservatório de Música de Sevilha mas, sendo casado com a pianista portuguesa Alice Câmara Santos, optou por viver em Lisboa durante este período até 1954.


Em Lisboa vai continuar o seu trabalho de composição dando origem a alguns títulos de notável inspiração como "Siete canciones populares españolas" (1938) e as mais evidentes provas da sua lusofilia musical como "Rapsódia Portuguesa para piano e orquestra" (1939) e "Seis canciones portuguesas" (1943), com base em canções populares portuguesas.

Uma das tendências da década de 30 do século XX foi a aproximação entre a atitude "folclorizante" e a exigência "classicizante" dos músicos mais avançados. Ernesto Halffter, após se instalar em Lisboa, dá um novo impulso ao aproveitamento, com técnica erudita, de temas populares.


"Rapsódia Portuguesa para piano e orquestra" (1939), composta, durante a Guerra Civil Espanhola, em homenagem a Maurice Ravel, tornou-se uma das peças mais significativas da música espanhola contemporânea.

"Rapsódia Portuguesa" mereceu o seguinte comentário de Fernando Lopes-Graça: "pelo facto de se inspirar no folclore, não cai no pitoresco fácil e superficial" e consegue, "sem habilidades pedantes ... uma unidade e uma lógica rigorosas", encerrando "uma lição que muito pode contribuir para a resolução do problema da ... criação erudita [portuguesa]"



"Seis canciones portuguesas" (1940/41) baseava-se em canções populares portuguesas: "Ai, que linda moça", "Gerinaldo", "Don Solidon", "Água do Rio que lá vai","Escolher noivo" e "Minha mãe me deu um lenço".

 "Ai, que linda moça", que é o tema mais conhecido, foi interpretado por cantores de elevado renome como José Carreras ou Teresa Berganza.


Fontes: Página oficial / wikipedia / "Da música na história de Portugal" de Manuel Pedro Ferreira / Blog "Pessoas en Madrid"

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