sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Uma futura Rainha Aventureira em "Os Diamantes da Coroa" (1841)



"Les diamants de la Couronne" é uma ópera cómica em três actos, com libreto de Eugène Scribe e música de Daniel-François-Esprit Auber. A peça decorre em 1777 em Portugal, sendo os dois primeiros actos em Coimbra e o terceiro acto em Lisboa.

No enredo a futura rainha de Portugal, D. Maria, resolve substituir os diamantes pertencentes à Coroa Portuguesa por cópias fiéis feitas de cristais lapidados, com o objectivo de saldar a dívida de Portugal. Entre os personagens é de realçar o Conde de Campo Mayor, o regente, a sua filha Diana, D. Sebastião de Aveiro, jovem oficial, Reboleddo, o falsário, e Catalina, sua suposta neta (que será a futura rainha D. Maria).
 

Em 1777, durante os últimos tempos de reinado de José I e da menoridade de Maria Francisca, sua filha e futura rainha, Portugal enfrentava uma severa crise financeira e agrícola, sua população sofria com a fome e com o frio. A situação se agravava dia a dia e a miséria do povo inquietava Maria Francisca.

Como solução para o problema, a futura rainha de Portugal resolveu substituir os diamantes pertencentes à Coroa Portuguesa por cópias fiéis feitas de cristais lapidados, com a ajuda de um falsário, conhecido como Rebolledo, que ela havia conhecido nas prisões da Inquisição.


Maria Francisca acompanhou cuidadosamente o trabalho de Rebolledo e quando as cópias das joias ficaram prontas ela as colocou no lugar das verdadeiras, as quais tinham grande valor, o suficiente para recuperar as finanças do país.

A futura rainha de Portugal disfarçou-se, então, de chefe de um bando de contrabandista, passando-se por uma mulher da região da Boémia, de nome Catharina, estratégia para poder negociar as pedras da Coroa sem macular a casa real com contravenções.


Assim como havia sido planeado, a venda das pedras preciosas trouxe grandes somas aos caixas do Estado, possibilitando que Portugal conseguisse superar a difícil situação na qual se encontrava. O que não se esperava é que a futura Rainha seria desmascarada.

Este é o enredo da ópera-cómica "Les diamants de la Couronne", de Eugène Scribe, com música de Daniel-François-Esprit Auber, submetido ao parecer censório do Conservatório Dramático Brasileiro, pelo director da Compagnie Lyrique Française, em 1846. A intenção era apresentar a peça no Teatro de São Francisco, um dos pequenos teatros do Rio de Janeiro. Mas, a peça não agradou em nada ao grupo de censores.


O primeiro pedido de licença para a apresentação de "Les diamants de la Couronne" num teatro do Rio de Janeiro foi feito ao Conservatório Dramático pela Compagnie Dramatique Française, em 1844. Já supondo que a história narrada na peça pudesse causar problemas para a sua aprovação, o director do teatro francês substituiu o local onde os eventos ocorriam, colocando a Suécia no lugar de Portugal. A artimanha não funcionou, a peça foi censurada.

Depois da proibição inicial, outro pedido de avaliação foi feito em 27 de setembro de 1846, quando a Compagnie Lyrique Française, sediada no Rio de Janeiro, submete novamente (sem sucesso) a peça à censura do Conservatório, agora sem modificar em nada o libreto de Scribe, pedido que causa maior frenesi nos censores.

Adaptação para TV (1999)

Entendidas as possibilidades oferecidas pelo censor, o director da companhia francesa submete outra vez a peça à análise, em dezembro de 1846. Mas, agora, os acontecimentos narrados na peça se passam na Dinamarca, em 1387, no final do reinado de Waldemar III e de sua filha Margarida, distanciando a possibilidade de ligação histórica da família real brasileira de um acto de contravenção, mesmo que esse acto fosse objecto de uma peça teatral e não em de texto historiográfico. Para os censores, isso bastou para isentar a peça da acusação de imoralidade. Para garantir que a ilusão do teatro não subverta a História de Portugal, o empresário responsável pelo espectáculo ainda se compromete a modificar o vestuário, colocando todos os artistas com trajes da Idade Média, sem nenhuma referência à cultura e aos costumes portugueses.

Fonte: Denise Scandarolli  (em "Café História") (adaptado)

Foi igualmente adaptado para Zarzuela:

Adaptação para Zarzuela

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