sábado, 15 de junho de 2019

Portugal e as portuguesas em Tirso de Molina (1583-1640)


Tirso de Molina (pseudónimo de Frei Gabriel Teller) foi o autor espanhol que mais vezes, e com maior ternura, se referiu a Portugal.

E Tirso de Molina é o poeta estrangeiro em cujas obras, com maior entusiasmo, constância e gentileza se cantam as portuguesas! Era tal a sua devoção por elas que - prova de extrema admiração - escolheu, de entre todas as suas heroínas, uma portuguesa, a encantadora Seraphina de "El Vergonzoso en palácio", para colocar em seus lábios o elogio da arte do teatro, segundo os novos cânones libérrimos com que Lope de Vega a emancipara da clássica rigidez greco-romana.


A lusofilia de Tirso de Molina é evidente em D. Beatriz Silva. É na boca do rei D. João II de Castela que o dramaturgo põe a célebre frase: “Beatriz, mulher tão bela, só a merece Deus”.

Essa predilecção por temas lusitanos é igualmente evidente em “Las Quinas de Portugal”em que o tema é a personalidade histórica de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, e a formação da nacionalidade portuguesa.


No total de 86 comédias que o catálogo do seu teatro, publicado em 1907 por Cotarelo y Morí, lhe atribui, interessam a Portugal nada menos de onze. Dessas onze, sete passam-se em terras portuguesas, a saber : "El Vergonzoso en palácio" ("O envergonhado no paço"), "Siempre ayuda la verdade", "Averiguelo Vargas", "Las Quinas de Portugal" ("Quinas de Portugal"), dois actos de "El Amor médico" ("Médica por Amor"), um acto de "Dona Beatriz da Silva" e várias cenas de "La Gallega Marí-Hernandez".

"Escarmiento para el cuerdo" é a dramatização do conhecido episódio do naufrágio de Sepúlveda. "Antona Garcia" alude à batalha de Toro, essa pequena Aljubarrota espanhola. E nas duas restantes, que são "El Burlador de Sevilla y Convidado de piedra" e a segunda parte de "La Santa Juana", há importantes referências a Portugal.


O interesse por Portugal não resultou da sua viagem a Portugal em 1619 pois “El Vergonzo en Palácio” é uma comédia toda portuguesa, no argumento, personagens e lugar de acção. E em 1613 já era evidente a apologia a D. Afonso de Albuquerque em “Santa Juana”.

Tirso de Molina faz decorrer a sua comédia "Averiguelo Vargas" em Portugal, durante a menoridade de D. Afonso V, ou seja durante a regência de D. Pedro, o morto infeliz de Alfarrobeira. Entram na peça, além do rei e do regente, os infantes D. Diniz e D. Duarte, a infanta D. Filipa, D. Afonso de Abrantes, prior do Crato, Ramiro, Sancha, etc.


Na comédia "El Amor médico", cuja acção decorre em grande parte na douta Coimbra, Tello, o gracioso, previne seu amo D. Gaspar sobre o recato com as mulheres portuguesas que não saem de casa até se casarem, nem aos domingos à missa.

Outra das comédias com temática portuguesa é "Siempre ayuda la verdade". Passa-se em Lisboa, no reinado de D. Pedro I, e é das mais frisantes demonstrações do conceito que o autor formava do ciúme português e da fidelidade e constância das portuguesas no amor, a respeito do qual uma das suas personagens, Alberto Vator, irmão do rei da Polónia, confessa que fora um erro ter, em coisas de amor, um competidor português.

Fontes/Mais informações: "Portugal e as Portuguesas Tirso de Molina" de Manuel de Sousa Pinto (1) / "Lusofilia de Tirso de Molina" de José Maria Viqueira Barreiro (1) (2) / Linkgua 

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