quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Beatriz Costa - Vedeta em Portugal e no Brasil


A actriz portuguesa Beatriz Costa (1907-1996) efectuou cinco digressões ao Brasil (1924, 1929, 1937, 1939 e 1950) e fixou residência no Rio de Janeiro durante grande parte da década de 1940, quando organiza uma Companhia de Teatro de Revista com o actor brasileiro, de origem espanhola, Oscarito (Companhia de Revistas Beatriz Costa com Oscarito – 1942/1945).

Em 1924, ela já estava actuando no Teatro Maria Vitória de Lisboa, na revista "Rés Vês", ainda como corista. No dia 24 de julho  embarcou, com a Companhia Portuguesa de Revistas do Teatro Eden de Lisboa, em parceria de António de Macedo (director artístico da Companhia) com José Loureiro (empresário português que detinha vários teatros no Brasil, como o República), no navio Lutetia rumo ao Brasil.

A companhia apresentava como elementos principais as actrizes Lina Demoel, Zulmira Miranda, Carmen Martins e Julieta de Almeida e os actores Álvaro Pereira e Jorge Gentil.


Esta primeira temporada da Companhia Portuguesa de Revistas dura quatro meses (de 7 de agosto a 8 de dezembro), sendo apresentados no teatro República um total de nove espectáculos de revistas inéditas e em "reprise" dentre as quais estão "Fado corrido", "Tiro ao alvo", "Chá com torradas", "Piparote", "Aqui d’El-Rei", "Rez-Vez", "O 31", "Tic-Tac" e "De capote e lenço".

No dia 9 de dezembro, Beatriz Costa seguiu com a companhia para uma temporada nas cidades de São Paulo e Santos retornando novamente para uma nova temporada, no Rio de Janeiro de onde parte para Portugal em 14 de junho de 1925.

No entanto, não foi dessa vez que Beatriz Costa ficou no Brasil. Voltando a Portugal, com reputação, de grande artista, passou por várias companhias ao lado de renomados artistas, como Nascimento Fernandes, Manoel de Oliveira e Eva Stachino, quando obteve grande popularidade com o número "D. Chica e Sr. Pires", ao lado de Álvaro Pereira.


Em 1927, talvez influenciada pelo furor que o corte à la garçonne (popularizado por Margarida Max e Louise Brooks) provocou, Beatriz Costa estreou no cinema, com um novo corte de cabelo que se tornaria sensação entre as mulheres: o franjão.

A partir daí, como se diz em Portugal, toda a gente sabe o que significa ter uma franja à Beatriz Costa.


A sua segunda visita ao Brasil foi com a companhia portuguesa de Eva Stachino, em 1929. Novamente, a imprensa portuguesa noticiou o sucesso da actriz, relembrando sua passagem pela América do Sul.

Em solo brasileiro, o grupo apresentou as revistas "Pó de Maio", "Lua de Mel", "Meia-noite", "Carapinhada" e "A Mouraria", entre outras.

"Minha Noite de Núpcias" (1931)

Após a tournée ao Brasil, Beatriz Costa foi escolhida pelos homens da Paramount para encarnar o papel de Clara Bow em "Minha Noite de Núpcias", versão portuguesa de "Her Wedding Night" de Frank Tuttle (1930), rodada em Paris nos estúdios de Joinville sob direcção do realizador brasileiro Alberto Cavalcanti.

O filme teve sucesso em Portugal e no Brasil, destacando-se, nos principais papéis, ao lado de Beatriz Costa,o actor brasileiro Leopoldo Froes e o actor português Estevão Amarante.


Em 1933 a sua imagem é eternizada em "A Canção de Lisboa" de José Cottinelli Telmo, um dos primeiros filmes sonoros realizados em Portugal.

O filme é estreado Brasil, no Cinema Odéon, em Dezembro de 1933, permanecendo em cartaz até 7 de janeiro de 1934. E posteriormente é reposto no Cinema Alhambra (em fevereiro) e noutros cinemas como o Floresta (em maio), o Nacional (em junho) e o Popular (em setembro).

Em outubro é exibido no cinema gratuito do Auditorium do Rio de Janeiro, no decurso da Feira Internacional de Amostras (entrada 1$000). E em 1937 é exibido no Grande festival do Centro Recreativo Braz de Pina.



Em 1936 é um dos destaques da lendária revista "Arre Burro" (que viria a ser um dos seus maiores sucessos em Portugal e no Brasil) e faz parte do elenco de "O Trevo de Quatro Folhas", dirigido por Chianca de Garcia, com a participação do actor brasileiro Procópio Ferreira (no seu primeiro papel no cinema) e do actor português Nascimento Fernandes.

O filme é estreado em Portugal (em 1936) e no Brasil (1937).


Em 1937 retorna ao Brasil agora com a sua própria companhia (Companhia Portuguesa de Revistas com Beatriz Costa), contratada pelo empresário José Loureiro, que, segundo diria mais tarde, “foi o degrau para a minha independência”.

No Rio de Janeiro, ela se apresenta no Teatro República sucessivamente nas revistas: "Arre, Burro!", "Estrelas de Portugal", "O Liró", "O Santo António", "Sardinha Assada" e "Água, Vae…"
  

O Jornal "A Batalha" assinala na sua edição de 15 de outubro de 1937 a “reprise” da revista “Arre Burro !” (depois de quatro semanas de “êxito ruidoso”), que terá sido reclamada insistentemente por mais de mil pessoas que escreveram cartas e enviaram telegramas quer para Beatriz Costa quer para a empresa do Theatro República.

Actua igualmente no Teatro Casino Antárctica em São Paulo sob direcção artística de Rosa Matheus e direcção musical do maestro António Lopes.


Em maio de 1939 parte novamente para o Brasil com a sua companhia (Companhia Portuguesa de Revistas Beatriz Costa). Julgava-se que por alguns meses, mas a guerra que rebenta na Europa no Outono  mantém-na do outro lado do Atlântico durante cerca de 9 anos, a qual considerou os melhores anos da sua vida.

No período em que esteve no Brasil (1939-1947),  trabalhou durante 2 anos no Casino da Urca, no Rio de Janeiro, formou Companhia com Oscarito, actuou em diversas cidades, mas sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo, fez amizade com alguns relevantes intelectuais brasileiros (como Jorge Amado) e casa, a 18 de fevereiro de 1947, no México, com o arménio Edmundo Gregorian.


Na primeira temporada, ainda sob a gerência do empresário José Loureiro, de junho a outubro de 1939, no Teatro República, no Rio de Janeiro, apresentam nove peças de teatro de revista, em espectáculos por sessões, todos os dias às 20h e 22h, com "matiné" aos sábados às 16h e às 15h, aos domingos. Além de se apresentar com sua companhia no Rio de Janeiro, faz incursões teatrais às cidades de São Paulo e Campinas.

Beatriz participa em três grandes campanhas publicitárias numa nova estratégia comercial que envolvia a imprensa, o rádio e o cinema. A primeira delas é uma promoção da Sociedade Rádio Nacional – PRE-8 e do jornal "A Noite" para um concurso popular de caricaturas da actriz, cujos traços devem ressaltar a sua famosa franja.

Após o encerramento do prazo do concurso, uma exposição com os 135 desenhos originais do concurso é inaugurada em 25 de maio nas instalações da Rádio Nacional.


Em 1939 é estreado no Brasil o filme português "Aldeia da roupa branca", de Chianca de Garcia, com Beatriz Costa no papel de protagonista.

A imprensa da época assinalou a presença do realizador português no Rio de Janeiro aquando da estreia no cinema Odeon, sendo referido o sucesso do filme em Inglaterra, Espanha, Suécia e Noruega (sendo o primeiro filme falado em língua portuguesa que atravessa essas fronteiras) . Chianca de Garcia radicou-se no Brasil onde realizou os filmes "Pureza" (1940) e "Vinte horas de sonho" (1941).

De fevereiro a abril de 1940, a actriz faz uma "tournée" ao Rio Grande do Sul apresentando-se nas cidades de Porto Alegre e Pelotas.

Entre outubro de 1940 e fevereiro de 1941, contratada pelo empresário Joaquim Rolla, realiza espectáculos no Grill do Cassino da Urca junto a Grande Otelo e outros artistas nacionais e internacionais.


Em 1941, actua nas casas de diversões do empresário Felix Rocque, em Belém, no Pará. Ainda no mesmo ano, participa em programas de rádios e grava discos na RCA Victor e na Columbia interpretando marchas, sambas e canções típicas portuguesas.

O seu primeiro disco incluía a marcha "Não te cases Beatriz", de Antônio Almeida, Alberto Ribeiro e Arlindo Marques Jr., em dueto com Leo Vilar, com acompanhamento do conjunto de Benedito Lacerda e do grupo vocal Anjos do Inferno e "Beatrizinha", temas que faziam parte da banda sonora do filme "Portuguesinha" de Chianca de Garcia (que foi rodado no Brasil, com Beatriz Costa como protagonista, mas não chegou a ser concluído).

O disco incluía igualmente gravações de canções como "Tiroliro", "A Cachopa Não é Sopa" e "Ai! Joaquim".


Referência à exibição em Portugal de "Portuguesinha" que não chegou a ser concluído

Em 1942, a actriz constitui a Companhia de Revistas Beatriz Costa com Oscarito, em parceria com o empresário português Celestino Moreira, que actuou inicialmente no Teatro República e posteriormente no Teatro João Caetano, onde permaneceu até 1945.

A companhia inclui no seu repertório revistas, operetas e "burletas" (comédias musicais ligeiras). A estratégia empresarial é atingir não só o público brasileiro, mas principalmente os espectadores de nacionalidade portuguesa, distantes de seu país de origem e repletos de sentimento nostálgico pela pátria longínqua (pois as companhias portuguesas estavam impedidas de se deslocar ao Brasil devido à guerra).

Em 1945, no intervalo da peça "A Cobra tá Fumando" foi inaugurada no "hall" do Teatro João Caetano uma placa de bronze oferecida a Beatriz Costa e Oscarito pelos cronistas e autores teatrais em homenagem aos 19 meses de triunfos dos dois actores.


Em setembro de 1942, O Globo publica uma entrevista de Bandeira Duarte com Beatriz Costa com a sugestiva manchete: "Beatriz nasceu duas vezes". Na ocasião, a actriz declara: "Eu nasci em Portugal [...] Mas a Beatriz Costa que vocês conhecem nasceu aqui, no Brasil. Foi baptizada num palco brasileiro... O primeiro punhado de sal português e a primeira salva de palmas brasileira são as minhas duas certidões de nascimento, dando-me direito a duas pátrias".

Em 1950 realiza a sua última digressão ao Brasil, com direcção geral de Chianca de Garcia, na Revista "Mão Bôba" no novo Teatro Carlos Gomes, mas a crítica não é tão positiva devido à menor qualidade dos textos.




Considerada uma sedutora de plateias, Beatriz Costa divertiu o público carioca e se afirmou como uma profissional da alegria, como ela mesma se intitulou num dos seus livros autobiográficos.

Do alto de seu 1,53 m de altura, a vedeta dos dois países somou o amor do público português ao do brasileiro e construiu uma trajectória digna de respeito.

Fontes/Mais informações: Aplauso  / Christine Medeiros  (1)(2) / Blog "Histórias do Cinema" / Dicionário do Cinema Português de Jorge Leitão Ramos / Blog "Mulheres Ilustres" Fabulásticas / Miguel Catarino (discos) / Heloísa Helena Paulo (cinema)  / Citi


 

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