terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Os Portugueses no Faroeste: Terra a Perder de Vista" de Donald Warrin e Geoffrey L. Gomes (2001)

No fim do século XIX havia 22.474 cidadãos lusos na zona Nordeste dos Estados Unidos, dos quais mais de 90 por cento residentes no Massachusetts e no Rhode Island. "Land As Far As the Eye Can See", de Donald Warrin e Geoffrey L. Gomes, chega a Estados nunca antes considerados, entre os quais o Nevada, o Oregon, o Wyoming, o Arizona, o Idaho ou o New Mexico.

Trabalho de detective

"Foi um trabalho de detective. Já se escreveu muito sobre a imigração portuguesa da Califórnia e da Nova Inglaterra, mas nunca se tinha escrito nada sobre os portugueses que se fixaram no Velho Oeste, muito provavelmente por terem sido poucos.

Nas pequenas comunidades onde viveram, as pessoas conhecem essas histórias, mas não são do domínio comum". É por isso que há chineses e italianos nos "westerns" mas nós nunca estamos lá, apesar de termos chegado "a ser representativos" na construção do caminho-de-ferro transcontinental.

Espírito aventureiro

"Os portugueses tinham um espírito aventureiro que outros imigrantes nunca demonstraram: estiveram em sítios onde a maioria tinha medo de ir, e estiveram lá muito precocemente e não muito acompanhados.

Acho que adquiriram essa coragem a bordo dos baleeiros: quando chegavam à América já tinham estado no Pacífico Sul, já tinham encontrado pessoas de raças completamente diferentes e, por isso, na Califórnia eram dos menos relutantes a seguir em frente, em direcção ao interior.

Não tinham medo dos nativos americanos, nem dos perigos da fronteira, mesmo quando estavam sozinhos nesse ambiente inóspito. Encontrei comunidades do Velho Oeste onde nunca houve mais do que quatro ou cinco portugueses e mesmo assim pude escrever sobre eles, porque fizeram um nome."


Ruralidade

"Um dos aspectos mais singulares da imigração portuguesa é a sua tendência para ser muito rural e portanto muito isolacionista, sobretudo na região californiana de San Joaquin Valley.

As pessoas viviam em ranchos que eram como pequenas ilhas e tendiam a não socializar ou a socializar com outros portugueses, sobretudo com os que vinham da mesma ilha.

Há uma explicação para isso, que tem a ver com o individualismo destes imigrantes: eles sabiam que só se sairiam bem como agricultores ou criadores de gado, porque a cidade exigia deles uma educação que não tinham.

Sobreviveram porque economicamente eram independentes - tinham as suas terras, os seus negócios - e porque eram extraordinariamente poupados".

Outras actividades

Além de agricultores e criadores de gado, os portugueses do Oeste também foram barbeiros (sobretudo nas cidades mineiras do Nevada), cocheiros, condutores de diligências, operários ferroviários e dramaturgos (Tom de Freitas foi o primeiro cidadão do Idaho a publicar uma peça de teatro).

Tiveram carrinhas de distribuição de leite (como Joseph Oliver, que entre 1876 e 1913 distribuiu pessoalmente a sua produção, 365 dias por ano), hotéis e "saloons".


"Portuguese Joe" na ficção literária

Há um pescador nascido na ilha do Corvo no mítico "Moby Dick", de Herman Melville, mas o "Portuguese Joe" (cozinheiro do sr. Keane) de "Nos Mares do Sul" (Robert Louis Stevenson, 1850-1894), um dos clássicos do Romantismo escocês e anglo-saxónico, é o protótipo dos marinheiros migrantes portugueses do século XIX.

Como uma série de açorianos daquele tempo, também ele parece ter deixado as ilhas a bordo dos grandes navios pesqueiros, à procura de uma vida melhor. Como quase todos aqueles, também ele se chamava “Joe” – abundavam entre as classes sociais mais modestas nomes como José, João, Joaquim ou Jorge.

Fontes/Mais informações: Joel Neto (Grande Reportagem) / Inês Nadais (Ipsilon/Público, pág. 26) / Jornada online / Mundo Português

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