quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O fado de Maria Berasarte (2009)


Maria Berasarte, nascida em 1978, estudou canto lírico e deixou-se seduzir por outras sonoridades e acaba de editar o seu primeiro álbum.

Com direcção musical de José Peixoto e letras originais de Tiago Torres da Silva, "Todas Las Horas Son Viejas" pega em fados tradicionais e, sem pretensiosismo, apresenta uma visão diferente deste género musical tão tipicamente português.

"Espero que as pessoas oiçam o disco com o mesmo carinho com que eu o fiz. Não é mostrar como a espanhola canta fado, não é uma coisa de 'ah, eu sou fadista'... Eu sou uma espanhola, basca, cantora, e que fez uma homenagem ao fado porque o fado fez muito por mim, e Portugal também", explicou.

Primeiro contacto com o Fado

Apesar de ser Filha de Galegos, não tinha tido grandes contactos com o fado. Até que um dia ouve Amália na televisão espanhola:

"Ouvi cantar de uma maneira que nunca tinha ouvido. Parecia com o flamengo, mas noutro plano, muito diferente, mas muito visceral" (…)

"Precisava mesmo de ouvir algo assim. Queria deixar a escola de canto, mas ainda não sabia qual o rumo que queria seguir."

Primeiro disco

Queria gravar um disco que recolhesse canções de diversos géneros, quando a sua mãe lhe fala da possibilidade de gravar fados. Após contactar José Peixoto (Madredeus) por e-mail, o músico português aceita ser o produtor do disco, sendo convidado Tiago Torres da Silva para ser o autor das letras em espanhol.


Depoimento de Tiago Torres da Silva

O disco da Maria Berasarte foi um acontecimento. Nada fiz para que acontecesse, mas a Maria, que é uma cantora extraordinária, apaixonou-se pelo Fado e veio a Portugal com o intuito de encontrar os parceiros certos para esta viagem.

Quando me encontrou, pediu-me que escrevesse letras em português para ela e fui eu que lhe propus que, se era para cantar fado, tinha de cantar com as palavras que aprendeu desde criança. Eu sou um letrista de vozes, para vozes! Tento sempre escrever como se fosse o cantor que vai interpretar aquelas palavras.

Por isso, fez-me sentido escrever em castelhano e foi um desafio muito grande, porque tive de comprar dicionários de rimas em espanhol, de expressões... durante meses a fio só li livros em castelhano e, por fim, escrevi aquelas letras de fados tradicionais, o que não é nada directo, porque a poesia popular portuguesa (e, por isso, quase todos os fados tradicionais) é maioritariamente em redondilha maior.

E as sete sílabas não calham bem ao espanhol... tive de as fazer caber... mas acho que isto foi um episódio que eu tenho muita vontade de repetir... mas nada mais que isso...por exemplo, gostava imenso de fazer um disco com fados tradicionais em francês... e até sei quem seria a cantora...

Quanto à questão de se estas experiências são fado ou não, confesso que não me interessa muito. Eu faço o que tenho de fazer, Existe alguma coisa inominável que me impele a fazer as coisas. Por isso, do ponto de vista da intimidade, claro que isto tudo é fado. Do ponto de vista da catalogação pública, talvez nada disto seja fado. Pelo menos, para os puristas, não é, de certeza!

Uma letra fala de se sentir como portuguesa

Palavra triste
Quando a guitarra beija
Não importa a tristeza
Eu sinto-me portuguesa
Eu também digo saudade

Fontes: Programa Bairro Alto (RTP2) / Portal do Fado / Blogue de Letras

Video: "Cosas que no sé"

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