segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O fado e a Saudade na visão de Thomas Nydall (Suécia)


“För en av Dina tarar/ vilken Lycka/ att da fà dö”, ou seja, “por uma lágrima tua/ com alegria/ me deixaria matar”. O poema é de Amália Rodrigues. A língua, o sueco. E é um dos motes do livro de Thomas Nydahl, um jornalista escandinavo, de 55 anos, que se apaixonou pelo fado. E agora lançou “Musiken Som Föddes Bortom Haven” (significa a Música que nasceu além do mar). A edição é sueca, de 1500 exemplares. E não está prevista qualquer tradução.

Um magnífico volume, de capa dura, com 260 páginas, e muitas ilustrações. De um sueco para suecos. Só o tema é português. Estranho? Certo é que o fado provoca paixões pelo mundo inteiro. Isso já se sabe pelo sucesso internacional das fadistas pós-Amália: Mariza, Mísia, Ana Moura, Joana Amendoeira, Cristina Branco, Ana Sofia Varela, entre outras... O que não estamos tão habituados é que tal aconteça do ponto de vista teórico.

“Fä do”, em sueco, significa “poucos morrem”. E o que talvez seja intrigante para os povos escandinavos, habituados a não ver o sol e dados a depressões, com uma taxa de suicídios elevadíssima, é que um povo do Sul tenha uma música tão triste. Mas se a palavra saudade é só nossa, a saudade em si é universal. E tanto dá por aqui, na incrível luz de uma cidade costeira, como por lá, nos dias de breu e de sol da meia-noite.

Neste livro, o jornalista, apaixonado por Lisboa, reúne vários textos originais sobre fado. “O meu objectivo é dar um retrato, histórico e contemporâneo, do fado e da saudade. Começo com um texto muito pessoal e emocional sobre os meus encontros com o fado, desde a minha primeira visita a Lisboa, em 1983. Falo sobre o fado que considero genuíno, moderno e geralmente afastado da música comercial, enquanto produto de uma indústria” -- explicou ao JL. Assim, o volume inclui um CD, editado pela Tradisom, que reúne gravações antigas da canção de Lisboa. Thomas Nydahl já publicou cerca de 40 volumes dos mais diversos temas. Esta é a terceira aventura portuguesa. Antes saíra um livro sobre Lisboa e outro também sobre fado.

Folheando o livro, encontram-se referências a Amália, Aldina Duarte, Mísia, Mafalda Arnauth, Hélder Moutinho, Joana Amendoeira, Pedro Moutinho, Maria de Fátima, Ana Maria, Mariza, Carla Pires, entre muitos outros. Tudo tão bem apresentado, que apetece mesmo ler. Cá para nós, só é pena estar em sueco.

Fonte: Manuel Halpern / Jornal de Letras

Curiosidades

"A música que nasceu para além dos mares" foi publicado em 2006, com o subtítulo "uma história sobre o fado Português e o conceito de Saudade".

Em 2004, o jornalista e escritor publicara "O amor e a saudade - uma história pessoal sobre o fado Português".

O jornalista mantém um blog (em sueco) onde aborda com frequência a temática do fado

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